“A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o governo e a economia sirvam de verdade a toda nação.” A frase, retirada diretamente do discurso de posse do presidente Jair Bolsonaro, em 1º de janeiro de 2019 no Parlatório, relembra uma das principais bandeiras levantadas em sua campanha: a luta contra a corrupção. No entanto, em 23 dias de governo, já são graves as polêmicas em que sua família se encontra envolvida.
A maior delas, o caso Queiroz, incide diretamente no seu primeiro filho, Flávio Bolsonaro, eleito senador do Rio de Janeiro nas últimas eleições. De certo, tudo ainda se trata de investigações e o presidente, embora relacionado, não está diretamente envolvido. Entretanto, é preciso dissecar melhor o caso.
Fabrício José Carlos de Queiroz, subtenente aposentado da Polícia Militar, é amigo de Jair Bolsonaro. Por indicação, prestava serviços como segurança e motorista. Em 2007, foi nomeado assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro, sendo exonerado do cargo em outubro de 2018.
Por sua vez, o filho mais velho de Bolsonaro já completava 4 mandatos como deputado estadual quando foi eleito senador. Em uma rede social, ele exibe uma biografia oposta a atos ilícitos e a favor de justiça política e social. “Minha atuação sempre foi muito forte na Segurança Pública. Porque temos que colocar na lei um olhar para as vítimas dos criminosos e não com pena de bandidos.” –relata em sua página oficial do Facebook.
O caso Queiroz inicia-se em dezembro, após uma matéria divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo. Nela, exibia-se um relatório produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), em que foi revelada uma movimentação atípica (1 milhão e 200 reais) na conta bancária de Queiroz. Uma das transações destinava-se a Michelle Bolsonaro, atual primeira-dama, no valor de R$ 24 mil. Em resposta, o presidente justificou a ocorrência como “pagamento de uma dívida”.
Alguns detalhes agravariam a situação: os depósitos na conta de Queiroz eram realizados próximos a datas de pagamento na Alerj; e o dinheiro era rapidamente retirado, o que seria uma evidência da trânsito desse montante. Assim, surge a suspeita de que o ex-assessor tinha a função de receber quantias de salário dos servidores do gabinete do deputado.
Chamado para depor, Fabrício Queiroz não compareceu na data marcada. A justificativa: problemas de saúde e a necessidade de uma internação. O mesmo aconteceu posteriormente entre seus familiares e até mesmo com Flávio. No entanto, ambos realizaram entrevistas ao SBT e a Rede Record.
Em 17 de janeiro, o ministro do STF Luiz Fux detém a investigação após um pedido da defesa de Flávio Bolsonaro, que, já eleito senador, pôde reivindicar a conferência do foro privilegiado. O caso segue adicionando mais dúvidas e os envolvidos ausentando respostas imediatas.
Além dessas tantas questões ainda sem explicação, adiciona-se, nesta semana, uma nova informação acerca dos assessores de Flávio. Segundo matéria publicada no jornal O Globo, a mãe e a companheira do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-PM tido como um dos líderes da organização “Escritório do Crime”, eram funcionárias do gabinete do deputado estadual até novembro do ano passado. O grupo miliciano é suspeito da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Foi revelado também que, em 2005, Flávio homenageou Adriano Magalhães na ALERJ pelos seus serviços à sociedade. Por sua vez, a mãe do ex-PM está registrada na lista de depositantes a Fabrício Queiroz.
Como se pode notar, são várias perguntas que necessitam respostas. Os cidadãos do Rio de Janeiro precisam de esclarecimentos acerca de todo o caso. E carecem não só de justificativas da voz de Flávio e de Queiroz em seus veículos de comunicação preferidos, mas também da voz da justiça.