Em um sábado ensolarado, acordei cedo e fui encontrar com dois amigos fotógrafos. Um é morador do Complexo do Alemão e a outra, não. Porém, ela veio a convite deste amigo.Pois ambos trabalham juntos fazendo registros de corridas pela cidade.
Nesse dia, o nosso encontro se deu para fazermos um ensaio fotográfico de quatro jovens que participam de um projeto no Alemão. O qual tem por objetivo transformar vidas de jovens da favela através da dança.
Esse projeto, assim como diversos outros, não possui muitos recursos, porém segue para realizar sonhos e criar oportunidades para a juventude potente e talentosa que temos nas favelas.
Voltando ao encontro com esses amigos… logo em seguida chegou mais um amigo que também fez do Alemão sua morada quando veio de outro estado.
Ao caminhar pela Avenida Central, lembramos da época que semanalmente nos reuníamos no pé do Morro para realizar saídas fotográficas pela favela.
Usávamos as redes sociais para divulgar o horário e local de nossos encontros e dali seguíamos em bonde para fotografar pela favela.
– Bons tempos…
– Sinto muita falta disso.
Nessas saídas muitos fotógrafos foram revelados. (Outro dia conto mais sobre essa história)
A favela deixou de ter apenas imagens de operações e mortes nas buscas no Google.
O acervo de imagens dela tornou-se rico em registros de paisagens, cotidiano, sorrisos… o dia a dia real retratado pelos olhos de quem vive nela.
Por isso a fotografia é uma das minhas paixões.
Não é a toa que quase tudo que me envolvo tem uma forte relação com isso.
Imagens, histórias, favelas…
Chegando em um ponto alto do Morro do Alemão, na Pedra do Sapo – Morro da Esperança, percebemos o quanto o cenário varia de um lugar para outro.
A diferença chega ser gritante das condições físicas de moradas e socioculturais.
Em um ponto íngreme e com muitas pedras grandes pelo caminho, paramos para as meninas tirarem os seus tênis e substituir por suas sapatilhas. Enquanto elas faziam isso, duas crianças pararam para observá-las.
Nesse momento, meu amigo Alexandre Silva, fez o registro.
Para muitos pode ser apenas um “registro”, mas para nós essa imagem tem histórias por trás dela.
Eu fiquei imaginando o que poderia estar passando por aquelas cabecinhas. Quais são seus sonhos? Será que elas também gostariam de ser bailarinas?
Essa é a essência do que nos propomos a fazer.
Tentar entender a vivência do nosso povo, contar essas histórias de forma que a sensibilidade seja o primórdio para isso.
A cada passo que dávamos vinha uma lembrança afetiva.
No final, olhei os cliques dos meus amigos fotógrafos e agradeci.
Como é bom compartilhar desses momentos com gente que acredita.
Como é bom poder estar cercada dessa gente sensível que tem alma de artista.
Ao chegar em casa, postei uma das imagens desse dia.
E ao olhar mais e mais pra ela via tanta simbologia.
E é assim que vou redescobrindo minha missão e me mantendo mais viva.