Posso convidá-lo para jantá-lo?

O cumprimento formal na audiência na Casa Branca. Créditos Reprodução

Vamos parar de análises e projeções geopolíticas em torno da viagem dos Bolsonaros aos Estados Undos e encarar a dura realidade: foi um rito de passagem para pai e filho, uma espécie de ida à Disney que sempre sonharam visitar mas nunca tinha tido a oportunidade. E os americanos, mestres na prestidigitação e nas cortinas de fumaça, agendaram a programação ideal para a curtíssima temporada, de tal forma que no mesmo dia em que desembarcaram, os dois, mais o ministro Sérgio Moro, sumiram da vista dos simples mortais por duas horas inteirinhas – olha só que mágica! Depois o mundo soube que tinham ido à sede da CIA, o sonho de consumo dos apreciadores de torturas, mortes e desaparecimentos políticos ao redor do planeta. Além de conhecer as entranhas da inteligência americana, Bibo e Bóbi tiveram a grata surpresa de saber que nosso ministro da Justiça é o “funcionário do mês” de março da agência na qual nunca, desde sua criação no fim da segunda guerra, um presidente estrangeiro havia pisado. Quanta subida e elevada honra para um simples e periférico capitão!

O jantar na embaixada, ao lado do guru Olavo de Carvalho. Créditos: Reprodução

Inebriados pelo que viram e testemunharam, Jair e Eduardo se excederam nas besteiras que costumam despejar em nossos ouvidos. O pai disse que a maioria dos estrangeiros que vão para os Estados Unidos quer se dar bem e não pensa nos americanos, no bem estar deles. Há um certo exagero nisso, pois todos sabemos que os jardineiros, motoristas, faxineiros, babás, guardadores de estacionamentos, balconistas de lanchonete, lavadores de carros etc são estrangeiros em busca do Eldorado que, no mais das vezes, os próprios americanos impedem que seus países sejam. E o menino confessou sua admiração, sua vassalagem, sua idolatria pela terra do Tio Sam, com tal ênfase que o próprio Trump o chamou para o encontro presidencial no salão oval da Casa Branca (dizendo ele, claro, no que não podemos acreditar porque ele mente tanto quanto o pai).

No mais, a comitiva foi pródiga em esculhambações aos brasileiros e ao país, confirmando diante do mestre e guru Olavo de Carvalho o que ele dissera lá atrás: somos ladrões, sujos, sem educação, não sabemos nos comportar e gostamos de passar a mão nos peitos das americanas…pronto, falei, mamãe! No geral, a comitiva presidencial gostou demais do passeio, com a exceção daquele barbudinho cujo nome não consigo guardar e que se diz chanceler brasileiro. Uma fanfarrão! o país inteiro sabe que Eduardo Bolsonaro nos representa do exterior desde antes mesmo da posse do pai. Voltaram com as malas recheadas de lembrancinhas de toda espécie, inclusive produtos que turistas habituais não podem trazer sem pagar altos impostos. E deixaram lá concessões e promessas incríveis aos olhos de qualquer observador minimamente inteligente.

O ministro da Economia, que atende pelo nome de Paulo Guedes e promete ser não Átila, o Huno, mas o cavalo dele, que onde pisava não nascia mais nada – o ministro vendilhão da pátria, dizia eu, declarou que o presidente ama os americanos e ele tanto ou mais ainda, porque estudou lá a economia que aplica aqui. Tais palavras me fizeram lembrar do chanceler argentino de Carlos Menem no anos 1990, um tal de Hugo Di Tela, que disse certa feita, transbordante de lascívia: “A Argentina queria mesmo era ter relações sexuais com os Estados Unidos”. Estamos quase lá.