Me orgulho de ter pertencido durante dois anos, seis meses e quatorze dias à tropa de elite do país, o Corpo de Fuzileiros Navais. Também me orgulho de ter saído do curso de especialização em Escrita e Fazenda dessa instituição para me tornar missionário da JOCUM – Jovens Com Uma Missão. Orgulho-me também em ter conhecido o jornalismo durante a década de noventa, como uma das principais fontes da mídia nacional e internacional dentro das favelas e hoje ser um jornalista, podendo dar um retorno, através de minha profissão, para os pobres e desfavorecidos de meu país. Agora, me tira o sono pensar o que está acontecendo no Complexo do Alemão, em como uma parte da tropa que se encontra naquele complexo de favelas está desonrando uma instituição que deveria ser orgulho de nosso país.
Acordei quatro horas da manhã e não consegui dormir mais com as imagens que vi ontem, que não saíram da minha mente, relatadas pelo jornalista Patrick Granja e com as palavras da moradora Viviane Ribeiro. Não, não é uma denúncia vazia e sem fundamentos! Uma moradora fez um relato em nosso site ontem e nossos jornalistas foram lá e apuraram que mais de quarenta pessoas foram feridas pela força de “pacificação” que se encontra no Complexo. Isso é uma vergonha! Como o comando do exército consegue permitir que a instituição que tinha tanto crédito se manche dessa maneira e ainda dão uma desculpa esfarrapada de que “ao prender um suspeito, recebeu retaliações da população e foi obrigada a revidar”? Mesmo que tivessem recebido retaliações dos populares, que tipo de tropa é essa que abre fogo contra seu próprio povo? É uma vergonha e uma mácula que vai custar muito caro à instituição que deveria garantir os direitos constitucionais de nossa população.
Ainda bem que não fui do exército, pois nesse momento estaria me sentindo mal em ter pertencido à uma tropa que está massacrando pessoas pobres que confiaram que estes seriam melhores que os traficantes que lá estavam. De acordo com o relato de uma moradora que escreve em nosso site, a população está preferindo os de antes que os de agora! É um absurdo…
Me orgulho de ser jornalista e de poder relatar fatos e de ter liberdade para estar aqui escrevendo essas palavras para milhares de pessoas. Me orgulho de saber que pertenço à uma categoria que busca a verdade dos fatos e que trabalha para garantir uma sociedade mais justa e igualitária. Espero que dessa vez, diante de tantos fatos, diante de tantas provas irrefutáveis, os colegas da grande mídia não se furtem a divulgar a maneira que o exército brasileiro, no jargão da favela, está “esculachando” os moradores do complexo de favelas do Alemão. Que possamos dormir com nossas consciências tranquilas de que estamos fazendo a nossa parte e que os moradores das favelas possam dormir em paz…