O futebol é o esporte mais praticado em todo o mundo. No Brasil, é dito como a paixão nacional.
As alegrias, paixões e a soma de muitos outros sentimentos promovidos por esse esporte não se aplica somente aos clubes profissionais, mas se estende às diversas equipes amadoras em todos os lugares do país, em especial, dentro das favelas.
No bairro do São Gonçalo do Retiro, em Salvador, uma competição de futebol amador tem se destacado como instrumento para integração social e garantia dos direitos comunitários. Organizado por uma das associações do bairro – Liga Baixiense de Futebol e Inclusão Social, o campeonato acontece sempre aos domingos, visando dar oportunidade de participação a toda favela. Neste sentido, a estratégia é utilizada como forma de beneficiar coletivamente as pessoas envolvidas. A realização do evento ajuda a movimentar a economia local e explora a comunidade a fim de expandir a sua valorização no contexto social.
Emprego e renda
Em 2018, a média de desocupação foi a maior dos últimos sete anos no Brasil. Salvador, com taxa média de 16,1%, é uma das capitais que teve índice acima da média nacional (12,3%), conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por conta dessa situação, muitas pessoas recorrem ao trabalho informal para conseguir renda para o sustento de suas famílias. É neste momento que a realização do campeonato contribui para que essas elas possam faturar com a venda dos seus produtos: água, refrigerante, cerveja, churrasquinhos, dentre outros.
Não necessariamente é preciso estar desempregado. Há também quem use o evento para garantir uma renda a mais no orçamento mensal, como é o caso de Dona Ivonice Alves, de 45 anos de idade. “O campeonato é bom e me ajuda a conseguir uma grana extra para manter as despesas da casa. Além disso, eu me divirto bastante com minhas irmãs e amigas que vão acompanhar os jogos e fazer companhia”, diz a diarista. Ela vende churrasco em um dos espaços usados por vendedores nos domingos de competição. Cerca de 15 barracas provisórias são montadas todo final de semana nas redondezas da Arena Dendê, como é chamada a praça esportiva usada para a competição. Além disso, o comércio local também se beneficia com o aumento do público.
Integração social
O futebol também é um elemento que potencializa a integração social. Reunindo 12 equipes de diferentes localidades, a competição promove não apenas a disputa pelo troféu, mas também permitem que a comunidade receba a visita de vários bairros de Salvador, representados por atletas, dirigentes de times e diretores das ligas de futebol da cidade. As parcerias firmadas com os demais líderes de outras comunidades fortalecem os laços de amizade entres os bairros e viabiliza a união dessas lideranças em busca de estratégias para resolução de problemas que são comuns nas periferias de Salvador.
Arquibancada coberta, banheiros com chuveiros, vestiário, sede administrativa, campo recém-reformado e com iluminação de LED conquistados através da luta comunitária liderada pela instituição que organiza o campeonato, garante o bem-estar coletivo e a segurança dos moradores e visitantes, proporcionando a diversão, lazer e o direito de se sentir integrante nessa grande festa de confraternização e esportividade.
Diante de tantos problemas sociais enfrentados dia-a-dia dentro das periferias, esta é uma iniciativa que apresenta uma visão diferente das que são vinculadas às favelas. O mais interessante é que, assim como no bairro do São Gonçalo outras comunidades realizam ações desse tipo para ajudar na valorização do seu povo e da sua cultura. É preciso expandir a divulgação desses trabalhos para que eles possam ser vistos dia após dia através dos meios de comunicação e assim fortalecer ainda mais os que já vêm sendo desempenhados e, como exemplo de sucesso e resistência, motivar outras lideranças a pôr em prática em suas localidades.
