Um homem passa pelo corredor, acho que é meu filho.
Por via das dúvidas, melhor esconder este escrito.
As memórias vêm e vão, feito dança:
Vêm para cá, vão para lá.
Assim dancei com minha esposa Iolanda.
Não a vejo faz tempo.
Já eternizamos tantos momentos…
Uma luz sempre aparece para mim.
Tenho medo dela.
Geralmente, deixa minha mente deserta.
Relembra-me do fim.
Eu trabalhei em banco:
Números, banalidades, falsidades.
Gosto de minha nova vida, cheia de liberdades:
Super Ancião!
Orgulho-me de ser herói.
Rotina é trabalhosa.
Todos os dias, luto contra o mal.
Minha cueca sobre a calça descreve
minha postura nada amistosa.
Mostro o pior de mim ao meu rival.
Aquele homem torna a passar.
Deve querer algo.
Meu superpoder lhe fará um estrago!
Assim como àquela moça de branco.
Não me lembro de ter pedido cuidados a estranhos.
O que escrevia mesmo?
Vez ou outra, eu me esqueço.
Ainda tenho alguns fios grisalhos de memória.
Falta pouco para o término da histó…ri…
Ai…
A luminosidade me atrai.
Como um rio deságua, minha consciência se esvai.
Preciso te ver, meu amor, antes que eu me esqueça.
Novamente a luz.
Seu brilho me desguarda, apaga tudo em minha cabeça.
Devaneio, não me reconheço:
-Quem é esse velho no espelho?
Israel Sant’Anna Esteves