Trama sem fim

CENA DO CASAMENTO DE EDUARDO BOLSONARO NA CASA QUE PODE SER DE OLAVO DE CARVALHO

Amiga que divide a vida profissional entre o Brasil e os Estados Unidos bateu o olho na foto de Davi Nascimento na minha página do Facebook e reconheceu: “Esta é a casa do Olavo de Carvalho aí no Rio de Janeiro. Tenho certeza porque fui a uma recepção que ele deu aos Rolling Stones em 92”. De fato, uma paisagem daquelas não se esquece, mesmo passadas quase três décadas. Como escrevi no post, coisa digna de Cecil B. de Mille no áureos tempos da MGM, e devo admitir que é cenário difícil de se igualar para o casamento de alguém, ainda mais filho de presidente da república.

O que me capturou a atenção de imediato quando minha amiga enviou a mensagem é a inacreditável sequência de coincidências de nomes e endereços em torno da família Bolsonaro. Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco, é vizinho do presidente no condomínio de casas na Barra da Tijuca, onde também mora o terceiro filho, Carlos. Ente inúmeros condomínios na Barra, o miliciano tem casa próxima à do presidente. Foi preso junto com o motorista de sobrenome Queiroz, sem ligação aparente com o outro Queiroz que depositou quantias elevadas na conta bancária de Michelle, esposa do presidente. Está desaparecido desde o começo do ano e das investigações do COAF sobre a movimentação financeira de Flávio Bolsonaro, e escondeu-se inicialmente numa comunidade controlada pela milícia da qual toda a turma parece fazer parte, de uma forma ou de outra.

Uma das hipóteses para a execução da vereadora Marielle Franco pelos milicianos é que ela podia ameaçar a eleição de Flávio para o Senado, mas nada disso é confirmado porque as investigações policiais seguem em ritmo de tartaruga cega, como se não houvesse interesse em elucidar nada. Até porque no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro estiveram lotados, nomeados por ele, milicianos, parentes, ex-parentes, amigos, vizinhos…uma festa. Lembremo-nos de que o próprio presidente teve uma vendedora de açaí do litoral fluminense como assessora. O esquema empregado pela família é antigo e típico do baixo clero da política nacional. O vereador ou deputado nomeia fulano para seu gabinete com cinco mil reais de salário e fica com 4,5, repassados mensalmente para o Queiroz (no caso do Flávio). Os jornais revelaram há pouco que nada menos de oito ex-assessores de Jair Bolsonaro jamais puseram os pés na Câmara dos Deputados – provavelmente nem em Brasília.

Tudo é muito nebuloso quando se trata dos negócios da família Bolsonaro, mas algumas coisas parecem pontas de novelos que se desenrolam à medida que são puxadas. Assim parece ser a relação de Eduardo com o astrólogo Olavo de Carvalho. É sabido que é um discípulo dele, mas o envolvimento pode ter raízes mais profundas. Há quanto tempo se conhecem? Como se tornou aluno? Olavo não tem relação com milícias, ao que se sabe, e Eduardo não tem capacidade de discernir astrólogo de astrônomo – que dirá de filósofo! Quem sabe o endereço do casório não é a origem desta relação tão próxima?

Mas voltemos a Santa Teresa, no centro carioca, onde Eduardo e Heloísa celebraram casamento em ambiente privilegiado. As notícias do ágape falam em “casa de festas”, o que é possível, muito embora não acredite que o dono daquela paisagem se desfaça do imóvel, a não ser em situação extrema, o que não parece ser o caso de Olavo de Carvalho. Com seu visto americano próximo do vencimento, ele poderá voltar ao Brasil, se o governo Trump não lhe der nova oportunidade. Quem sabe, então, saberemos se a casa de festas de Santa Teresa é a residência do astrólogo – e consultando os astros talvez saibamos como conseguiu dinheiro para comprar o imóvel. Ou se algum Bolsonaro é o verdadeiro dono, já que para a família tudo é uma festa mesmo!