Sim. É lá o meu lugar, é lá que me encontro e me reconheço como um ser do universo, é lá que eu sou grata ao senhor Jesus e a mãe natureza pela beleza do verde mato, como costumo chamar aquele tom de verde, (risos), eu vejo a imensidão do céu, independente de como ele esteja. Azul, nublado, com nuvens, com sol, com estrelas ou com lua. Só sei que combina perfeitamente com o meu lugar.

No meu lugar tenho águas claras, com um som que quebra o silêncio do local, mas que soa como uma canção para acalmar.

Não posso esquecer de falar do canto dos pássaros, que nem lembro de está numa cidade barulhenta e corrida. É onde eu encontro a calmaria me induzindo a fazer técnica de respiração, inspirar e soltar o ar, inspirar e soltar o ar.

Nunca tentei, mas acho que seria um bom local para fazer meditação.

No meu lugar eu me sinto rica, sim. Rica de natureza, de tudo que o universo oferece, e por isso agradeço ao criador. Ah! O meu lugar me preenche e me traz a leveza que preciso, me conecta com Deus.

Sinto-me orgulhosa por este cantinho, mesmo cheio de problemas, deixo claro que não gostaria que tivesse problemas, mas amo mesmo assim. Ah como sonho em ver esse lugar como era na época da minha infância, sem violência, sem drogas, com famílias reunidas, tomando banho de cachoeiras e rio, se alimentando dos recursos que o próprio ambiente oferecia. Peixes, camarão, pitu, algumas frutas, jaca, jambo, acerola, cajá.

Água limpa, folhas de chás, hortaliças, quem sabe lá não tem a folha chamada favela?

Já que agora eu descobrir que existe essa planta, que tem tudo a ver com minha favela.

Muitas vezes me pergunto, por que o meu lugar é esquecido pelos poderes públicos? Porque as pessoas não cuidam deste ambiente tão cheio de boas energias?

* Matéria publicada no Jornal A Voz da Favela, edição de Maio 2019