Se ser vendedor numa loja convencional já é uma tarefa difícil, imagina ser um ambulante? Passar os dias circulando pela cidade alternando entre um transporte público e outro carregando um peso enorme não é fácil não! Por outro lado, deve ser levado em conta que os mesmos são em muitas ocasiões ignorados pela sociedade, inclusive pela polícia, que às vezes os enxerga como criminosos.
Nesse sentido, esses dias me deparei com uma cena cotidiana na qual um camelô anunciava os seus produtos. Ele, vendo que ninguém se interessava pelo que oferecia, apelou dizendo que estava cansado. Além disso, que aquela era sua última “viagem” e que, para se livrar do monte de coisas que trazia, cobraria apenas o preço de custo para quem quisesse comprar algo.
Até aí nada demais. Provavelmente, todo mundo já ouviu essa história, que pode ser verdade ou apenas uma estratégia de marketing. O que podemos explorar quanto a isso é sobre o dia a dia das pessoas que tem como sustento esse ofício. Assim, nota-se que não é uma atividade tranquila, sendo rodeada de perigos, preconceitos e de concorrentes, tendo em vista a quantidade de desempregados, fora os que fazem por gostar, por vocação.
Com isso, podemos retomar ao caso do senhor que foi citado inicialmente. Este, por exemplo, já estava na luta antes das 7 da manhã. Veio de longe, lá da baixada, pegou trem e ônibus para poder vender os seus biscoitos. Quando o seu estoque acaba, quer dizer que está encerrado o seu expediente. Porém, pode ser que ele não vá para casa ainda, pois precisa comprar mercadoria para o dia seguinte. Depois, o corpo só pede uma coisa: sua cama.
Dessa forma, quando chega em sua residência, é a hora que a família agradece a Deus pelo fato dele ter chegado vivo em meio a uma cidade perigosa, principalmente quando se é preto e pobre. Além disso, por trazer consigo o dinheiro para poder comprar uma carne, pagar uma conta, se divertir…enfim “se virar” durante mês. Pode não ser o dos gibis, mas na vida real esse é um verdadeiro super-herói de gibis.