É cada vez mais comum entrarmos nos ônibus da capital, e nos depararmos com um artista.
Andar de ônibus é realidade na vida de milhares de brasileiros. Na Bahia, os passageiros podem ter alguns minutos de arte em meio ao caos dos engarrafamentos. Artistas apresentam suas poesias dentro dos ônibus de Salvador. Poetas que trazem reflexão, e cobram sorrisos e aplausos. Gente como a gente, que precisa se sustentar, que passa o boné ao final das apresentações, esperando aquela a moeda guardada no fundo da carteira.
Indemar Nascimento é um desses artistas que invadem os ‘buzus’. Em 7 anos de contato com o rap, ele participou do grupo ‘3 versos’, decidiu seguir carreira solo, tem 3 CD’s gravados, participou de competições de poesia, e agora se prepara para ainda em 2019 lançar um livro. Em 2015 ele percebeu que precisava de algo para pagar suas contas, e entrou no ônibus para mostrar sua arte pela primeira vez. Ele continua nos coletivos e essa é sua fonte de renda. Indemar acredita que é preciso se renovar sempre. “Temos que nos cobrar, pra não ser mais um e sim ser um no meio de muitos ‘mais um’”, declara.
Tiago Jesus, mais conhecido como MC Griot, canta rap desde os 14 anos de idade, mas, a poesia falada entrou em sua vida de forma repentina. Griot foi a um evento, e não tinha dinheiro para voltar para casa, então, amigos que já faziam poesia em ônibus, o incentivaram a tentar. Ele continua com o trabalho, por ter encontrado uma forma digna de pagar as contas fazendo o que ama. Griot conta que passageiros procuram as redes sociais para agradecer, e ele acredita que isso é o que vale a pena, “Esse é o sentido, saber que pelo menos uma pessoa daquela plateia se sentiu bem ou teve um ânimo para continuar o dia”, declara. Sobre o conteúdo das poesias, o artista conta que é um grito que não pode ser calado. Ao ser questionado sobre o chapéu passado e a moeda ganha, Griot declara, “Da para sobreviver, viver acho que não é a palavra certa não”.
Além dos poetas, o público também tem muita história. A estudante Juliane Mota, anda com medo da violência, e encara o ônibus como uma das suas mais dolorosas guerras. “Essas pessoas me dão um abraço na alma. Estão ali para dar uma palavra que muda o dia de muitas pessoas e divulgar sua arte para os que mais precisam os que estão cansados da rotina”, declara emocionada.
A poesia é um acalento ao triste, um porto seguro ao assustado, uma companhia ao solitário. O poeta luta diariamente, e merecem sim, seu sorriso, seu aplauso, e aquela moeda para ajudar.
*Entrevista publicada no jorna A Voz da Favela edição de junho de 2019.