Muitos acabam ficando curiosos para saber qual a relação de favela e meus textões sobre ecologia. Pois bem; semestre passado eu tive uma aula em que o tema era ecologia e entre os materiais que foram expostos no data show, estava um vídeo sobre o antigo lixão do Jardim Gramacho em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Isso me fez refletir sobre o quanto eu já tinha ouvido falar sobre esse antigo lixão e que ele já havia sido fechado, com o tom de que todas as problemáticas que o cercassem tivessem sidos sanadas com esse ato. Mas pouco ouvia sobre como aquela região estava atualmente. Eu não sou carioca e não acompanhei a história do lixão, então na verdade conheci o Jardim Gramacho através da favela que lá existe hoje, – é esse ponto que quero chegar – através de uma ONG que atende a crianças da região, a IDE (Inclusão e Desenvolvimento pelo Esporte), que inclusive já fiz uma matéria sobre para a ANF. Dias depois, tive uma conversa com uma amiga que me fez refletir e juntar os dois acontecimentos. O debate era a cerca das polêmicas, como a ideia de que nos dias de hoje, é “modinha” ser ecológico e que isso “é coisa de rico”. Essas falas logo me remeteram ao Jardim Gramacho.
Por que a ecologia é coisa de rico se quem mais está sendo afetado pela degradação do meio ambiente são os pobres? Como eu disse anteriormente, pouco se fala da favela que se construiu na região em que existia um lixão e em quantas outras favelas surgem em volta deles. pois é onde muitos encontram seu sustento e formam suas moradias ao redor. Quando as pessoas falam que ter uma vida sustentável é coisa de rico, estão levando em conta que o lixo que elas produzem vão parar nas casas de outras pessoas?
Outra falácia é de que temos que primeiro acabar com a fome no mundo para poder falar de vegetarianismo ou veganismo, mas muitos projetos sociais estão ai para provar que se pode alimentar pessoas a baixo custo com agricultura familiar ou, por exemplo, aproveitamento partes de vegetais que são geralmente desperdiçadas. Também podemos citar os coletores menstruais, os famosos copinhos e absorventes de pano ou calcinhas/cuecas absorventes que são uma medida que a longo prazo economiza muito dinheiro, além de serem mais sustentáveis. Podem ser uma boa alternativa para adolescentes pobres que muitas vezes até faltam a escola por não terem condições de comprar absorventes descartáveis, além dessas opções serem uma boa alternativa para amenizar a disforia de pessoas trans que menstruam e falar de medidas para atender a pessoas trans é falar de consciência de classe, tendo em vista que é uma parcela marginalizada da sociedade.
Outra questão crítica e delicada é que nós, como pobres, não podemos usar esse mito de que “ecologia é assunto de rico” pra nos isentar da responsabilidade de cuidar do planeta. É uma forma de cuidar dos nossos irmãos pois a elite não está interessada em ser sustentável, na realidade, o capitalismo se sustenta usando o meio ambiente de forma incessante e irresponsável. Podemos juntar nossas forças, sendo lutando mais ativamente nos movimentos pela sustentabilidade ou fazendo nossa parte do dia a dia e conscientizando as pessoas ao nosso redor. Lembra que na época das nossas mães, avós (ou mais lá trás dependendo de onde você é) se usava absorvente de pano? E que o leite que chegava na nossa casa era comercializado em vidro e não plástico? É uma boa reflexão começar a perceber os avanços (retrocessos na verdade) do capitalismo. Encontrar um meio mais simples e acessível de usar produtos é uma forma de lutar contra o consumismo irresponsável, de forma a ajudar não só o planeta, mas as pessoas presentes nele.