O complexo da Maré foi o solo fértil onde o Projeto Destemidas tomou forma juntamente com o auxílio da ONG internacional Luta pela Paz.
Na favela o verbo correr é muitas vezes sinônimo de “meter o pé”, significando que algo deu ou pode dar errado, mas aqui não é caso. O verbo correr dentro do projeto ganha outros significados: empoderamento, auto-estima, noção de bem-estar, cidadania. O projeto Destemidas através da corrida como esporte ajuda a desenvolver essa percepção.
O projeto Destemidas foi criado pela Jornalista Carol Barcellos e, no seu nascedouro, recebeu o apoio da ONG Luta pela Paz(2017). Um momento marcante para o projeto foi o primeiro treino com a participação das jovens mulheres da ONG Luta pela Paz, na Marina da Glória.
As meninas da Maré também participaram do Wings for Life, em 2018, uma prova que aconteceu simultaneamente em 66 países. É um ato de solidariedade e incentivo às pesquisas pela cura da lesão da medula óssea. Demonstrando seu engajamento com a questão social.
O projeto foi inspirado na primeira mulher a completar a maratona de Boston em 1967, a corredora Kathine Switzer. Ela se tornou um símbolo de resistência e perseverança depois de conseguir terminar a prova mesmo no meio de tanta hostilidade. E, sendo assim, a partir desse momento, abriu-se o caminho para mulheres nas maratonas.
As Destemidas parte hoje para o seu segundo ano e podemos ver o seu resultado na fala de algumas de suas participantes: “O projeto viabiliza a ideia de bem-estar, saúde e os benefícios desse esporte: a corrida. Ou seja: não é apenas correr por correr”. – Disse Gabi Vidal, 20 anos.
O projeto trouxe a percepção da corrida, como um esporte inclusivo na sua totalidade. A partir desse momento o seu público-alvo, as mulheres da Maré, começaram a participar de corridas de curtas e longas distâncias. Contando com palestras de profissionais sobre o esporte e o universo feminino e sua importância na sociedade brasileira.
O projeto passou por algumas adaptações visando cada vez mais a qualidade do mesmo. Sendo assim, ele conta com vários profissionais, são eles: psicóloga do esporte, advogadas, cardiologistas e treinadoras.
Diante dessa mobilização social, podemos parafrasear o poeta: “Viver não é preciso, correr é preciso”.
Aqui percebemos um projeto que visa um novo passo, um novo ritmo nessa jornada à vida. Como destaca a criadora do projeto, Carol Barcellos: “Eu acredito muito no esporte. Não acho que é papo quando a gente fala da força que o esporte tem. Acho que é essencial na educação. Não dá nem para separar o esporte da educação porque é muito, muito importante no processo de formação de qualquer ser humano”.
Sendo assim, o objetivo inicial parecer estar sendo alcançado, pois as participantes destacam o projeto como sendo divisor de águas em suas vidas: “O projeto Destemidas para mim é união. Mulheres unidas e dispostas a ajudar umas às outras. Juntas nós somos mais fortes, sendo capazes de se superar e superar os seus medos. Ser Destemida é ter coragem e poder ser exemplo para alguém.” – destaca Jennifer, 18 anos.
Eu penso que vale a analogia: é como correr e ver a cada momento uma paisagem nova a nossa frente. Ora uma reta que mais parece um tapete em dias ensolarados, ora caminhos íngremes em dias chuvosos.
O mais gostoso disso tudo, no entanto, verificamos nessa fala:
“São na verdade mulheres muito fortes e elas me inspiram. Eu fui querendo dar e acabei recebendo muita inspiração delas”. – afirma Carol Barcellos. O projeto Destemidas contagiou as suas participantes que estão focadas numa só meta: crescer através do esporte:
“Destemidas para mim foi um projeto que abriu caminhos e me mostrou mais a ser quem eu sou… me deu mais capacidade de entender a união das mulheres e ter objetivos. Eu amo e não quero que este projeto termine nunca.” – afirma Rafaela Careli, 16 anos.
Do que depender do entusiasmo das jovens destemidas e da criadora do projeto, a iniciativa tende a crescer e chegar a seu propósito de alcançar mais e mais mulheres. Afinal, todo projeto se firma através da relação com o ser humano: “o que a gente tem no projeto hoje principalmente, principalmente no projeto é uma troca… que é o que eu espero que a gente tenha pra sempre, uma troca de força, troca de carinho, uma troca de empatia”.– Diz Carol Barcellos.
Não restam dúvidas, diante de tantos depoimentos fortes, que o projeto Destemidas junta a força com a vontade de correr!