As ruas e os espaços públicos são indispensáveis para construção da infância.
Pensamos em cidades mais igualitárias, mais sustentáveis, mais democráticas, mais acessíveis mas não pensamos em cidades para crianças…. E isso acontece naturalmente, porque já é senso comum que as crianças devem estar na escola ou devem estar em casa, afinal a rua não é lugar de crianças. Afinal as ruas e espaços públicos das grandes cidades são perigosos e cheios de violência e por isso uma infância saudável deve acontecer em espaços privados e sobre proteção e controle de responsáveis.
Não estou dizendo que devemos deixar as crianças sozinhas ou sem proteção, só estou questionando quando e como vemos crianças interagindo com a cidade. Normalmente é de manhã, com mochilas nas costas, nas suas bicicletas ou transportes públicos indo para escola, ao meio-dia quando as mesmas estão voltando para casa, no final do dia quando aquelas que estudam durante a tarde estão regressando ou aos finais de semana quando estão nos shoppings. As crianças não convivem com os espaços urbanos e isso impede o sentimento de pertencimento, interação com o cotidiano e vivências da cidadania.
Estamos vivendo um momento em que existem discussões nas câmaras municipais sobre espaço em calçadas para patinetes e bicicletas eletrônicas mas não pensamos em calçadas e espaços para as crianças e com isso aprofundamos ainda mais o individualismo, o enclausuramento infantil e falta de cuidado e noção de comunidade.
Conviver com crianças é experimentar o espaço urbano de forma lúdica, comunitária e com maior relação com a diversidade. As cidades estão tomadas por carros, publicidade, trabalhadores, mas não por crianças, não por famílias em lazer. Não ocupamos o espaço público, apenas passamos por eles. Ter crianças na rua é sinônimo de igualdade, de segurança de sustentabilidade e de integração da cidade. As cidades precisam pensar as crianças e as crianças precisam voltar a poder ocupar a cidade.