As altas desigualdades sociais presentes na cidades afetam principalmente a saúde mental dos jovens periféricos.
A depressão é caracterizada como um desequilíbrio químico no cérebro, fazendo com que as pessoas sofram de uma tristeza profunda e sem causa aparente, por longos períodos. A depressão afeta 11,5 milhões de brasileiros (ou quase 6% da população), segundo dados de 2015 da Organização Mundial da Saúde (OMS) e segundo a pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatísticas (IBOPE), encomendada pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos, e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) de 2010, identificou que as classes sociais C e D, são mais vulneráveis a depressão, com 43% das pessoas desse estrato social apresentando o quadro depressivo, enquanto apenas 26% das pessoas das classes A e B. E estima-se que até 2020, a depressão será a segunda causa de mortes no mundo, ficando atrás apenas das doenças cardíacas. Por isso, o setembro amarelo e as doenças psicológicas precisam vencer o estigma de “frescura”, falta de fé e boa vontade entre tantos outros estereótipos e serem tratados como algo sério, acompanhado por profissionais de saúde, políticas públicas de prevenção e tratamento e contar com apoio de familiares e amigos.
Os motivos da depressão são muito peculiares da subjetividade de cada um, mas uma coisa é certa, na periferia um denominador comum ou agravante é a falta de dinheiro. Afinal não ter nem o dinheiro da passagem para sair do bairro, nunca poder comprar uma guloseima do mercado, tirar um lazer ( os considerados luxos da periferia) já causam mau humor, isolamento social, cansaço mental somados ao desespero, frustração e raiva de trabalhar muito e não ter nem o básico para família em casa levam a depressão e os possíveis vícios como cigarro, álcool, comida e drogas ilícitas. A rotina na periferia também é um agravante. Como as favelas são constantemente sujeitas a intervenções da segurança pública ( que acha que toda a favela é a origem de todas as violências urbanas e todos seus moradores são contraventores) os moradores do subúrbio estão sempre em alerta, seja pra violência policial, pelos desastres naturais ( enchente, deslizamentos, chuvas, queimadas), pelo medo de ser lido como favelado por cidadãos que não moram na favela e por isso não serem bem recebidos e sofrerem os mais variados tipos de preconceitos, que a periferia têm um estresse mental, uma fadiga e uma depressão intensa. A sensação humilhação e impotência é ainda pior quando fazemos o recorte de classe e gênero.
Outro problema é a falta de preparo das instituições para receber a periferia deprimida, há pouco diagnósticos detalhados acolhimento dos profissionais e instituições para os sofrimentos mentais. Para os favelados resta as horas nos ônibus, o senso comum de que depressão é falta de enxada na mão, que gastar com saúde mental é para madames e que pobre têm a existência exclusiva para o trabalho. Façamos do setembro amarelo não apenas um mês de divulgações de clínicas terapêuticas e frases bonitas mas sim um mês de reflexão sobre o modo de vida capitalista, um mês de exercício da empatia e questionamento há quem interessa ter uma periferia doente e como podemos resistir a esses mecanismos e valorizar mais a vida e menos os bens de consumo.
O meu conselho é que os moradores da favela procurem os CAPS (centros de atenção psicossocial), que valorizem mais as mídias comunitárias ( principalmente aquelas produzidas com o protagonismo da favela) que contam a nossa realidade, que se cuidem e cuidem mais uns dos outros ao meio do caos. A depressão se manifesta por diversas causas mas a falta de dinheiro em um cenário de cortes sociais e desmonte das políticas de proteção cidadã não são culpa sua, a desigualdade e a falta de oportunidades não são culpa sua. Ter conhecimento sobre a situação do país e como isso afeta as camadas populares é empoderador para derrubar um sistema que culpa o pobre pela pobreza. Não se deixe enganar por coach sem especialização nenhuma e cheio de privilégios te convencerem que o único culpado pela sua depressão é você. Auto responsabilidade é entender o seu papel como protagonista nas mudanças e não fechar os olhos para um sistema desenhado para não ascensão social. Políticas de saúde mental também são ligadas à emancipação e o combate à opressão . Por um setembro amarelo de valorização à vida de todos e todas. Afinal como já diz á música “ tudo que eu quero é ser feliz e andar tranquilamente na favela em que eu nasci”.