Família e amigos de jovem assassinado por policial no Ibura, zona sul de Recife (PE), clamam justiça e respeito à juventude das favelas
Neste quarta-feira (15), aconteceu um protesto pela vida da juventude negra no bairro do Ibura, organizado pelos parentes e amigos/as do jovem William Silva, assassinado pela polícia militar no último sábado (11), no mesmo bairro, em que já vem sendo recorrente policiais militares matarem jovens, tendo sido Mário Andrade o último caso de repercussão. O ato contou com a presença de outros moradores do local que se uniram ao grito de “Quantos mais vão precisar morrer?”, exigindo que o caso seja investigado e o/a assassino/a seja devidamente condenado/a.
O sistema brasileiro reproduz uma tática genocida, onde as maiores vítimas de violência policial são os corpos negros, que representam a maioria da população das favelas e do país.
Como dizia o grande defensor das favelas Bezerra da Silva em sua música Eu Sou Favela, “A favela, nunca foi reduto de marginal,
Ela só tem gente humilde marginalizada, e essa verdade não sai no jornal”.
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O Ibura está entre as maiores favelas de Pernambuco, com mais de 50 mil habitantes, e sofre diariamente com as investidas violentas do Estado, que se utiliza da força policial como seu braço armado, cumprindo constantemente as ordens de extermínio da juventude negra. Assim como o Ibura, as outras favelas e periferias também sofrem com falta de assistência e repressão.
Essas ações por parte do poder público que deveria cuidar das pessoas acabaram por vitimar mais um jovem no último fim de semana (9) na localidade. William da Silva estava em um evento de Passinho (brega funk), ritmo da cultura popular pernambucana (muito expressivo nas periferias), quando a polícia chegou numa investida violenta, resultando no jovem sendo atingido à queima roupa com um tiro no peito, com o único disparo realizado na ocasião.
É recorrente a polícia agir com extrema brutalidade no local, impedindo também a realização de qualquer atividade cultural e artística no bairro, negando o direito básico de lazer que consta na Constituição Federal. O poder público não oferta condições adequadas e favoráveis para uma vida digna e neste sentido a população se organiza por ela mesma, tanto em reformas e manutenção dos espaços quanto em organização de eventos que proporcionem interação e sociabilidade.
O evento que acontecia no dia é um dos exemplos da organização popular. O ritmo Brega funk se tornou febre no Brasil e proporcionou a muitos/as artistas pernambucanos/as traçarem outros rumos por meio da música e da dança, além de influenciarem a juventude nos caminhos da arte e longe da violência.
O Passinho é parte da cultura de Pernambuco e ainda assim é marginalizado pela elite, pois assim como o frevo, a capoeira e o maracatu (que já foram proibidos) é um movimento que surge das classes mais pobres, das favelas, das periferias, mas que ganham o mundo e mostram seu valor. Nos eventos de Passinho que são organizados no estado, a intervenção policial se utiliza do abuso de autoridade, constrangendo e humilhando os/as presentes.
Voltando ao caso do jovem William, as câmeras da SDS (Secretaria de Defesa Social) instaladas no local onde ocorreu o crime mostram 5 viaturas da polícia subindo para o local momentos antes do tumulto. Essas imagens estão sendo analisadas para que seja identificada a autoria do homicídio, visto que na imagem divulgada é possível observar o disparo de arma de fogo.
Diversas testemunhas que se encontravam no local afirmam veementemente que a polícia foi responsável pelo disparo desferido no jovem. William tinha 19 anos e no momento do tiro, segundo testemunhas e amigos, questionava os policiais sobre seus direitos enquanto cidadão de utilizar os espaços públicos para o lazer.
A família e amigos seguem na luta por justiça e elucidação do caso, com punição aos envolvidos. O protesto ocorrido na Avenida Dois Rios, no bairro do Ibura, zona sul de Recife teve a intenção de alertar a população e deixar o questionamento “Quantos mais precisarão morrer?”.