Livro de Lúcia dos Prazeres traz narrativa sobre espaço importante para o Movimento Negro de Pernambuco
Reportagem para o jornal A Voz da Favela – Recife de janeiro de 2020
Existe um lugar em Recife que representa os valores e a cultura afro-brasileira preservados na cidade. Esse lugar é o Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio, Região central, local que sedia a Terça Negra. Segundo a mestra em Ciências da Religião Lúcia dos Prazeres, o evento começou em um espaço atrás dos Correios da Av. Guararapes, no Pagode do Didi, patrimômio vivo. O local, entretanto, não comportava a multidão que passou a frequentar o espaço desde a primeira edição. No ano de 2000, em articulação com a Prefeitura do Recife, os organizadores conseguiram a liberação para a mudança de local para a realização do evento, que reúne artistas da cultura negra e popular desde então.
Essa história é contada no livro “Terça Negra no Recife: Música, Dança, Espiritualidade e Sagrado” (Editora Cepe), que Lúcia dos Prazeres lançou no mês de dezembro na edição que comemorou 20 anos do movimento. Nascida e criada no Morro da Conceição, Zona Norte do Recife, Lúcia desenvolveu uma dissertação de mestrado sobre o tema, que virou a publicação em livro. O material reúne histórias sobre o fortalecimento da identidade, cultura e espiritualidade afro-pernambucanos, e conclui que a Terça Negra se tornou não apenas um espaço de resistência, mas também de criação.
Lúcia é uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado de Pernambuco e acompanhou de perto a criação da Terça Negra. Compreendendo a importância de se registrar a trajetória do evento – que até hoje articula a militância negra pernambucana –, ingressou no mestrado com a proposta de contar essa história. Ela observa a constante necessidade de a população negra contar as suas histórias, os seus feitos e sistematizar as suas experiências. “Os brancos, quando fazem um pingo de coisa, promovem um estardalhaço; a gente faz um evento com tanta grandeza como a Terça Negra. Por isso, achei muito importante que houvesse esse registro”, salienta Lúcia.