Axel Lóhr prepara lançamento de audiovisual após participação em filme nacional

Nascido no subúrbio ferroviário de Salvador, no bairro de Paripe, Alex Bruno era apenas um garoto que registrava imagens, da vista litorânea nas viagens de trem quando ia até o bairro de Periperi para casa de sua avó, até o jeito que sua mãe tratava cuidadosamente dos seus irmãos gêmeos recém nascidos, quando ele tinha 8 anos, esse fato o marcou muito, relembra.

Por sua personalidade retraída, Axel, ainda Alex, mais precisamente, Léo, como sua família o chamava, sofria muito bullying na escola e dos seus próprios primos e parentes próximos.

Crédito: Arquivo Pessoal

Os insultos eram muitos, (bixa, maluco, feio, cabeção, etc…) e Léo passou a se retrair ainda mais. Isso fez com que ele se fechasse para a própria família, e aos poucos, aos 15 anos de idade, ele já não se sentia parte de nada.

Com 17 anos, Léo sai de casa para morar com amigos, entrou em um grupo de teatro, onde percebeu que, ali, ele poderia falar e ser tudo o que “quisesse” “sem julgamentos”, o que descobriu que não era verdade, o clima de competição, o disse me disse por trás da coxia, e muitas vezes, a ridicularização, partindo dos próprios diretores diante de seus colegas, o levou a amargar seu dom no teatro.

A partir de então, Léo só fazia personagens onde pudesse escrever seus próprios textos, na maioria das vezes carregados de palavrões, ofensa a religião, a moral e até ofensas a Deus, que segundo ele, era parte de um grande espetáculo teatral.

Se desenvolvendo nas artes e na rua, como podia, custou muito a perceber que o Estado Social possuía portas, as quais ele não podia entrar, alguma coisa o bloqueava. Começou a se retrair novamente.

Buscando algo que não encontrava, sofrendo de distúrbios de personalidade, frustrado na vida pessoal (estava sempre se mudando para casa de um “estranho”) e nas artes, onde ele não conseguia sequer um trabalho remunerado, Léo começou a fazer uso de algumas drogas pesadas, como cocaína, ácido e quetamina – substância usada para induzir e manter anestesia.

Passava suas tardes no quintal de casa, debaixo de um abacateiro, lendo filósofos e psicanalistas como Carl Gustav Jung, para tratar sua própria saúde mental, ele diz, além de temas para tentar uma vaga no Enem.
Crédito: Arquivo Pessoal
Durante esses anos, ele diz ter vivido uma grande ilusão, e que olhar para esse momento, era como olhar para um bueiro sujo e sem fundo.
Aos 26, Léo julgou sua vida ter acabado. Sem amigos, sem trabalho, com a mente perturbada e uma estima arruinada, ele volta para casa de sua mãe, isso para ele era voltar ao zero. Volta a pensar em suicídio.
Porém, Léo conheceu um senhor que o induziu a ler um livro de Filosofia. Esse foi o seu “despertar”, ele alega. Alex conta que uma revolta inflou seus pulmões e ele rasgou todas as apostilas que estudava para tentar o Enem pela quarta vez.
Assumiu sua identidade de Alex Bruno e começou a ter respostas para questões que ele tinha no passado; por que as portas estavam sempre fechadas?
Por que ele sempre fora esnobado, apesar do seu talento, pelos diretores de teatro?
Por que não haviam filósofos negros sendo estudados para os exames do Enem?
Só a partir de então Alex se deu conta de sua negritude, e de seu lugar na pirâmide social.
Não importava seu talento nas artes, na poesia; ele era só mais um, dos milhões de jovens negros, periféricos, de baixa estima, pouco estudo, e estaria sempre ocupando a base da pirâmide. Então, ele resolveu assumir sua personalidade artística, a que falava mais alto nele.
Crédito: Diney Araújo

Agora, Axel prepara o lançamento do seu primeiro audiovisual, de temática política. A música nasceu das suas poesias, criadas nos tempos de estudos da Filosofia.

E é um retrato da sua própria vida até aqui. Não só dele, mas Axel usa inspiração no racismo estrutural e nos jovens negros de bairros periféricos, sempre barrados em seus planos de ascensão, seja pessoal ou profissional, por um sistema sanguinário, racista, elitista e meritocrata.

Mudou seu nome para Axel Lord (Senhor). Axel, seria seu próprio nome Alex, misturado, como cartas de baralho, sendo Lord, senhor em inglês, representando ele mesmo como o seu senhor, o único responsável por quem ele seria depois dali.

Não lhe agradava usar em seu nome, um verbo americanizado, e ele criou a palavra Lóhr, de fonema parecido, e para ele, com o mesmo significado: Senhor Axel. Axel Lóhr, fez uma recente participação no filme Divaldo – O Mensageiro da paz, interpretando um mendigo, o qual diz ter muito orgulho de ter feito, uma vez, que entrou lá pelos seus esforços, sem indicações ou conhecimentos, sendo selecionado através de teste de elenco.

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Valdeck Almeida de Jesus
Valdeck Almeida de Jesus é jornalista definido após várias tentativas em outros cursos, atua como free lancer, reconhecendo-se como tal há bastante tempo. Natural de Jequié-BA (1966), e escreve poesia desde os 12, sendo este o encontro com o mundo sem regras. Sua escrita tem como temática principal a denúncia: política, de gênero, de raça, de condição social, de preconceitos diversos: machismo, homofobia, racismo, misoginia. Coordena o movimento “Galinha pulando”, o qual pode ser visto no blog, no site e nas publicações impressas. Este movimento promove anualmente um concurso literário, aberto a escritores(as) do Brasil e do exterior. A poesia lhe trouxe o encantamento, mundos paralelos, as trocas, a autocrítica, a projeção de si e de outro(s), maior consciência de classe e de coletivo. Espera que as sementes plantadas se tornem árvores, florescendo e frutificando em solos assaz diversos. Possui 23 livros autorais e participa de 152 antologias. Tem textos publicados em espanhol, italiano, inglês, alemão, holandês e francês. Participa de vários coletivos da periferia de várias cidades, bem como de algumas academias culturais e literárias.