Quem crê em tudo não acredita em nada. Em algos há de se crer, em outros de se desconfiar. Então, para a arte, o que necessita? Se é que as perguntas contém mesmo o âmago das respostas, resposta: arte precisa necessitar, poesia necessita urgir. Arte não tem propósito, tem significância. Arte não serve a uma utilidade, ou significa por si só, ou é só uma bobagem, como dizem, um entretenimento, passatempo que pode significar tudo- por não significar nada. A Arte não se contenta em ser mais um item na prateleira do mercado que a tudo abarca e desfigura. Arte é o momento em que o supérfluo é essencial.
André Fernandes apresentou-me ao poeta Willian da Silva Lima, na ocasião, recitara um poema pesadíssimo e de beleza cinza-chumbo que escreveu com duzentos e seis dias de “surda”(prisão solitária) dentro do presídio da Ilha Grande -e vai reeditá-lo no livro VERSOS DA ARTE DE FALAR BEM E MAL. Depois da porrada do poema, algo dentro de mim indagava justamente o por quê; sem perceber eu buscava o motivo pelo qual Willian escrevera um poema numa situação sem perspectivas de quase nada, no limite da sobrevivência, onde era torturado até mesmo sem motivo. A perspectiva era a fuga, na urgência latente de vida. Assim pude sentir o que talvez já tivesse entendido. Os motivos da Arte ali eram divinos, pois a poesia não serve a nada, ela não é um meio para se alcançar um fim determinado. Ou o poema vale por si ou não faz nem barulhinho de poesia. O artista produz Arte pois não pode fazer diferente. O humano precisa manter a sanidade da vida na iminência da morte. Poesia necessária, latente e urgente. Poesia para se manter vivo e forte entre seres mal tratados e ameaçados. Perigosos humanos.
Agradeço ao poeta Willian da Silva Lima pela tarde de troca. Inteligência, sensibilidade e generosidade de artista vivo, latente e revolucionário.
SALVE A POESIA. A POESIA SALVA.