Eu tenho medo

Regina e Bolsonaro na posse de quarta-feira - Foto Alan Santos, Presidência da República

Em 2002, a atriz Regina Duarte gritou aos quatro cantos do país que tinha medo que o Partido dos Trabalhadores chegasse ao poder no Brasil. Não teve jeito: sua voz anasalada e imperativa não impediu que um trabalhador, saído da região mais seca e sofrida do país, subisse a rampa do Planalto.

Assistimos à ascensão da classe trabalhadora e também à sua queda! Ascensão no sentido de que os trabalhadores viram seu dinheiro render mais, passaram a comprar carne de primeira e viajar de avião. Os que não tinham nada passaram a ter o mínimo necessário como um quilo de feijão e um botijão de gás para cozinhar, num dos mais eficientes programas de distribuição de renda do mundo.

A queda veio através de um golpe “com o Supremo e tudo”, goela a baixo dos mais necessitados. O “grande acordo nacional” tirou do poder uma presidente legitimamente eleita para colocar em seu lugar um esquema de corrupção, no qual políticos eram flagrados com malas de dinheiro e ainda assim tinham as investigações arquivadas por falta de provas.

Para fechar o golpe conseguiram eleger “democraticamente”, com disparos de robôs e apologia à violência, um presidente que defendeu abertamente a volta da ditadura e disse que é a favor da tortura.

E o medo que Regina tinha do PT?

Ah! Ela não teve nenhum medo em aceitar fazer de um governo que ameaça e tenta calar artistas, jornalistas e intelectuais. Ela não teve nenhum medo ao ouvir que o seu presidente iria metralhar seus adversários. Ela não teve nenhum medo ao saber que seu presidente e seus filhos poderiam estar ligados ao assassinato da vereadora e ativista dos direitos humanos no Rio de Janeiro, Marielle Franco. Ela é uma mulher muito corajosa!

Em seu discurso de posse na tarde de ontem, 04/03, em Brasília, Regina Duarte fez sinal de continência ao seu capitão e disse que não tem ainda uma estratégia de trabalho à frente da Secretaria de Cultura.

Como assim? Estou ficando com medo!

Eu tenho medo de Regina! Estou com medo de Regina! Eu não tenho medo de ver as pessoas viajando de avião, mas tenho medo de Regina! Eu não tenho medo de ver um sertanejo cozinhando um quilo de feijão, mas tenho medo de Regina! Eu não tenho medo de ver os artistas e os jornalistas com liberdade de expressão, mas tenho medo de Regina!

Ela é corajosa! Eu não! Regina disse em seu discurso de posse que “Cultura é aquele pum produzido com talco espirrado do traseiro do palhaço”. Estou com medo!

Eu gosto de Regina, mas da manteiga! Vamos tomar um café?