Por Raquel Junia –  27.07.2009

Numa grande faixa branca exposta por dois moradores do Morro do Estado, em Niterói, estavam escritos os nomes dos cincos jovens mortos pela polícia no Morro e, ao lado deles, a frase: “1.130 dias esperando justiça”.

Esta é uma das cenas da manifestação que os moradores do Morro do Estado fizeram no dia 24 de julho, em frente ao fórum da cidade. Para o dia 28, próxima terça-feira, mais de três anos depois da chacina, está marcado o julgamento dos quatro policiais acusados no caso por homicídio qualificado. O julgamento será às 13h.

“A minha dor é muito grande, eu tenho mais cinco filhos, mas esse filho que morreu me faz muita falta. Ele não senta mais à mesa para jantar junto aos outros irmãos. Ele jogava futebol, estudava. O meu filho não era filho de chocadeira não”, desabafou ao microfone, bastante emocionada, Fernanda de Oliveira, mãe de Wellington Santiago de Oliveira, o mais novo dos jovens assassinados no caso que ficou conhecido como “Chacina do Morro do Estado”. O garoto tinha apenas 11 anos.

Há provas de que os jovens foram executados

Os jovens Wellington Santiago de Oliveira (11), Luciano Rocha Tavares (12), Edimilson dos Santos Conceição (15), José Maicom dos Santos Fragoso (16) e Wedsom da Conceição (24) foram mortos no dia três de dezembro de 2005.

Policiais do 12° batalhão, então sob comando do Coronel Marcus Jardim, subiram o morro na noite do dia três e são acusados de executarem os jovens e tentarem alterar a cena do crime. Os réus alegam ter tentado prestar socorro às vítimas. São quatro os policiais acusados: Antonio Carlos Miranda, Wanderson Soares Nunes, José Francisco de Araújo Júnior e José Roberto Primo Domingos.

Na ocasião, a perícia no local constatou que não houve troca de tiros, já que as marcas das balas se concentravam apenas nas imediações onde se posicionavam os jovens quando morreram.

Além disso, algumas das lesões nos corpos das vítimas foram consideradas “lesões de defesa”. Um dos jovens, por exemplo, tinha uma marca de tiro na mão esquerda, o gesto indica que o garoto provavelmente encobriu o rosto numa atitude espontânea de proteção. O laudo também confirmou que os disparos foram feitos a curta distância, o que representa um forte indício de execução.

“Vocês que estão sentados aí nessas cadeiras, que tem o grau para estarem aí, que estudaram para isso, por favor, façam valer o trabalho de vocês”, cobrou a mãe de um dos jovens, Fernanda de Oliveira, se dirigindo ao Fórum de Niterói.