por Antonio Vieira, presidente da ABJ

Antonio Vieira (*)

  Um acadêmico resolveu descrever em um livro suas experiências no mundo da
matemática. O fato é que morava em um país, onde para exercer a atividade,
obrigatoriamente teria que possuir “Diploma de Escritor”. Impossibilitado, a
solução foi escrever, verter para outra língua e publicar no
estrangeiro. Lançado nestas circunstâncias o livro teve enorme sucesso,
sendo, então, traduzido e editado em diversos países, inclusive no seu.

Afinal, para escrever deveríamos ter diploma? O que se esconde neste
exército a favor do Diploma obrigatório?

Ao contextualizarem exaltando tal fonte como única indutora da ética, da
capacitação: tropeçam feio, pior, nos próprios pés. Inacreditável, a
pasmaceira em plena aldeia global, onde novas conectividades e tecnologias,
dinamizam os conceitos, os formatos, os meios e modelos, quebrando
paradigmas. Porque impedir que alguém escreva seja ou não profissional, se
este é um dos princípios basilares da liberdade de expressão?

A intenção de vender a imagem de que o jornalismo é uma profissão
essencialmente técnica é absurda, irreal. Fatos sociais ou políticos sempre
terão a possibilidade jornalística de expor diversidade conceptiva e
textual. Entendo o jornalismo como arte, nobre arte, conceitualmente livre,
mesmo quando encerra equívocos interpretativos, faz parte da liberdade que
se prega e que deve ser protegida. Escrever é a expressão de um dom: e tal
condição não foi, não é, nunca será restrita apenas a diplomados.

Óbvio, nada temos contra o bom ensino, o valor do diploma, as boas
faculdades, os bons docentes, muito pelo contrário, somos contra o que aí
está, uma máquina de sonhos iludindo jovens. Aprendem pouco da realidade do
mercado, das grandes redações, da liberdade restrita, dos interesses
envolvidos. Nos espantamos com tantos arautos da Ética e lembramos  do
Cazuza, “sua piscina está cheia de ratos, suas palavras não correspondem aos
fatos...”.

A grande imprensa é permeada pelo viés político, pelo interesse privado e
muito poucas vezes pelo real interesse público. A mídia pública sofre
ingerência política de toda ordem. A decisão do STF muito mais do que
libertar o exercício do jornalismo libertou a criatividade e a arte no
escrever. Cabe a nós exercer bem este papel.

Tivemos nossa experiência com a ditadura militar, basta! Herdamos um
sindicalismo dos anos 40, viciado, casuísta, basta! Lutaremos contra as
imposições absurdas de uma legislação perdida no tempo, que na verdade atua
“contra” os profissionais como esclareceremos gradativamente.

O mundo transforma a relação patrão e empregado, no futuro seremos
parceiros, frilas, surgem novos rumos e possibilidades. A Internet, a rede,
são exemplos da liberdade transformadora, os blogueiros, sem lenço,
documento ou diploma, estão pautando as noticias. O engraçado é que são eles
a fonte da grande mídia.

Viva a arte de escrever! Viva a terceira onda! Viva o visionário Alvin
Toffler, ele previu: os rápidos engolirão os lentos, o resto é conversa
fiada.

*(*)Antonio Vieira é contabilista, administrador de empresas, com
especialização em matemática financeira, jornalista “sem diploma” por amor a
arte de escrever. Presidente da Associação Brasileira dos Jornalistas – ABJ
- Entidade que associa jornalistas com e sem diploma.*

*Este é um artigo com a opinião do autor e não traduz o pensamento do Portal
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