Uma série de medidas tomadas por ministros do Supremo Tribunal Federal são apontadas como sinais de descontentamento com o presidente Jair Bolsonaro por declarações e ações contrárias ao isolamento social e outras determinações da Organização Mundial da Saúde e do seu próprio ministério.
Embora entendam que a condução da política contra a pandemia cabe ao presidente da república, os supremos ministros estão sensíveis aos argumentos contra Bolsonaro. Na verdade, ele perde apoio a cada dia na questão do coronavírus, que fatalmente reflete no seu governo como um todo, por atitudes que adota sempre que confrontado com a realidade que não aceita.
A notícia-crime do advogado André Barros, do Rio de Janeiro, por infrações ao Código Penal quando saiu às ruas para abraçar populares reunidos para vê-lo, foi seguida de outra do deputado Reginaldo Lopes, de Minas Gerais, e estão ambas na mesa do Procurador Geral da República, Augusto Aras, encaminhadas pelo ministro Marco Aurélio Melo para investigação pelo Ministério Público Federal.
Mas a Procuradoria Geral não é a questão: a questão é que o Supremo se mantém à margem dos problemas nacionais desde a operação Lava Jato, a partir de 2014, longo período em que concordou com e coonestou irregularidades do então juiz Sérgio Moro (que Deus o tenha) nos procedimentos judiciais que deveria observar. Desde então, o STF está mais desacreditado que série do José Padilha na Netflix.
Mas como não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe, o STF ressurge como fênix para conter o ânimo beligerante de Bolsonaro. Tem um olho nas forças armadas que podem intervir em edição extraordinária e outro na tênue esperança de que a democracia brasileira garanta seu belo lugar ao sol.
“Até o presidente do Supremo, Dias Toffoli, que costuma fazer gestos em direção a Bolsonaro em busca de consenso, tem mandado recados ao Planalto. No último dia 16, convocou reunião entre os chefes de poderes e de tribunais superiores para discutir o combate à Covid19 “e evitou convidar Bolsonaro”, reportou a imprensa, como fato relevante.
Tudo não passa de “mise-en-scene”, encenação para enganar a plateia de analistas políticos e manter o país no vai-não-vai da guerra à pandemia. Não interessa mais o que pensam suas excelências nem se derrubarão Bolsonaro ou entrarão em acordo com ele. Estão todos contaminados nas suas mesas suntuosas por serviçais de luvas brancas e o caviar que nunca vimos nem comemos, só ouvimos falar.