Equipe do "Correio da Paraíba" posa para a posteridade - Reprodução

Evitei ao máximo escrever sobre o fechamento do Jornal Correio da Paraíba anunciado ontem e cuja última edição impressa foi publicada hoje, sábado, 4 de abril de 2020. Evitei porque é muita emoção envolvida, mas não resisti!

Minha infância foi marcada, entre outras coisas, pela voz dos gazeteiros que passavam pela rua nas primeiras horas do domingo gritando: “Jornal, Correio, O Norteêê!”, isso num ritmo próprio, numa cadência sonora que lhe era peculiar (e que é impossível reproduzir aqui!).

Era uma cantoria aos meus ouvidos e meu pai saía para o terraço e dizia: “chame ele aí. Vou comprar o jornal para ajudar esse menino, que acorda de madrugada ainda criança para trabalhar vendendo jornal”. Ele comprava por se compadecer da situação daquela criança, mas não sabia que estava me despertando o gosto pela leitura – de jornal!

E olhe como é o destino: quem diria que eu viria a trabalhar e me encontrar como profissional justamente nos jornais “Correio” e “O Norte”, como cantarolava o menino da rua. A ordem não foi exatamente essa: comecei em “O Norte” e depois fui para o “Correio”, fazendo passagem também por “A União”. E meu pai não estava mais aqui para ver!

Na universidade, me tornei economista, mas logo vi que não era meu caminho. Com o hábito de ler os jornais aos domingos, vi um anúncio em “O Norte” com o seguinte título: ‘Precisa-se de datilógrafo”. A essa altura eu já havia concluído economia e estava cursando jornalismo na UFPB.

Fui correndo fazer o teste para datilógrafo com o olhar no futuro, pensando em um dia ir para a redação. Passei no teste e meu trabalho era digitar no computador (aqueles da tela verde e monitor com um tubo imenso) as matérias que eram feitas pelos jornalistas em uma máquina de datilografia.

Minha visão e meu desejo estavam certos: com apenas duas semanas de trabalho pedi para ter uma oportunidade na redação. Fiz um teste de uma semana saindo no carro da reportagem com três pautas por dia e na semana seguinte estava contratado como “Repórter”. Isso era 02 de janeiro de 1991. Foi uma das maiores alegrias da minha vida.

Para não me alongar muito, digo apenas que dois anos depois – já com um trabalho reconhecido – fui convidado para mudar de esquina – ir de “O Norte” para o “Correio da Paraíba”.

Não vou citar nomes de amigos, editores e outros profissionais nesse texto porque ele serve para todos com quem dividi as redações, desde a recepção até a superintendência das empresas de comunicação em que trabalhei.

No Correio, a história foi ganhando ainda mais importância e me fazendo sentir ainda mais completo. Era o maior Sistema de Comunicação da Paraíba em atividade naquele momento. Quem não lembra do slogan: “O Melhor, O Maior e O Mais Lido”, seguido de outro que dizia: “Jornalismo com Ética e Paixão”.

Enfim, foi no “Correio” que fiz uma carreira jornalística como sempre imaginei: cheia de desafios, de aventuras a cada pauta, mas também com alguns embates na redação. Afinal de contas, nem tudo são flores para quem está apaixonado! E eu era – ainda sou, na verdade – apaixonado por jornalismo.

No “Correio” fui testemunha ocular de um momento que mudaria nosso modo de viver para o resto da vida: a substituição das máquinas de escrever pelos computadores. Fiz os textos para a edição de um caderno especial dos 40 anos do jornal e da informatização da redação. Parece que foi ontem!

De lá pra cá tudo mudou o tempo todo, com uma velocidade estonteante, como diria Caetano. Inútil será eu tentar descrever cada momento vivido por mim no Correio. Seria motivo para mais uma edição especial.

Então, fica aqui minha tristeza pela notícia recebida ontem, mas minha gratidão por todas as notícias que tive a oportunidade de escrever e ler no Correio: “O Maior, O Melhor e O Mais Lido!”.

Jornal “Correio da Paraíba” *05.08.1954 +04.04.2020