“Na noite do domingo tive febre alta. Acordei muito cansada na segunda-feira e permaneci trabalhando de casa. Como a tosse, febre e o cansaço só pioravam meu marido e eu colocamos máscaras e fomos ao Barra D’Or na noite de segunda-feira”.
“Além da febre e do cansaço, a falta de ar causava muita apreensão. Fui rapidamente atendida, pois o hospital estava vazio. Colheram sangue, o swab com material para Covid19 e ainda RX e tomografia. Em alguns minutos estava internada no CTI pois a tomografia tinha uma imagem característica de pneumonia bilateral”.
“A internação para quem nunca ficou em hospital em situações que não fossem felizes (partos das minhas filhas) foi bem pesada. Isolamento total do mundo exterior. Só médicos e profissionais de saúde entravam rapidamente no quarto. Eles tinham muito medo também. Medo de se contaminar, medo por não ter boas notícias para dar. Foram muito humanos principalmente nos três primeiros dias durante os quais meus resultados de exames pioravam. Usaram em mim todos os recursos que havia lido em artigos recentes, inclusive a hidroxicloroquina”.
“Veio o resultado positivo e me emprestaram um palm para falar com minhas filhas. Foi a melhor coisa que aconteceu naqueles dias porque a saudade e o isolamento eram terríveis. Os dias se passaram e foi muito difícil: falta de ar, náuseas, perdi o olfato e o paladar”.
“No quarto ou quinto dia de internação, quando tudo estava muito ruim mesmo, com febre e dormindo sentada para respirar, eu simplesmente melhorei. Eu mesma dei a notícia ao médico pela manhã. Eu estava melhor, algo havia mudado. Daí em diante os resultados de marcadores inflamatórios foram melhorando e em dois dias eu fui transferida para uma outra área de isolamento respiratório fora do CTI e ontem voltei para casa”.
“Ainda estou cansada e evitando falar. O tempo todo anotei o que me fazia sentir melhor, pensando em usar na rotina do Hospital de Acari nosso hospital dedicado ao Covid. Estou isolada das minhas filhas e marido no meu quarto e todo mundo aqui usando máscaras e lavando as mãos o tempo todo. Precisarei ficar ainda 14 dias em casa por causa da pneumonia mas já posso trabalhar daqui.Recebi centenas de mensagens de apoio e tentei responder a todas ontem quando cheguei em casa”.
“A tosse já não incomoda tanto e sinto muita vontade de voltar para o meu trabalho. Nossa equipe é muito dedicada e estão cuidando muito bem do planejamento para enfrentarmos essa epidemia. Em uma semana que estive internada os números aumentaram muito o que é preocupante mas era previsível. Hoje o meu maior desejo é retornar ao time, agora imunizada e contribuir ainda mais”.
“Como médica, eu tenho a certeza de que esse vírus que devastou o mundo não conheceu a força do SUS e que vamos passar por isso fortalecidos. Nesse momento o importante é a união de todos nessa batalha com a população fazendo a sua parte e ficando em casa até isso tudo passar”.
“Aproveito esse espaço para reforçar que é preciso ficar em casa. E dizer que todos os esforços estão sendo feitos no município do Rio para garantir leitos e tratamento necessário aos pacientes de Covid19 mas nenhum serviço de saúde do mundo é capaz de atender a todos ao mesmo tempo em uma pandemia nova, como essa, por isso, a importância do isolamento social”.