Estamos vivendo tempos difíceis, a pandemia nos trouxe tensões de diversos aspectos. Preocupação em não sermos infectados pelo vírus, angústia de cuidar-se constantemente e tentar proteger ao máximo quem amamos. A necessidade de pensarmos coletivamente como sociedade que somos e agirmos individualmente para um bem comum e maior.
A rotina mudou totalmente, um protocolo de conduta preventiva foi criado: “Intensifique a higiene das mãos; reaprenda a lavá-las ; use álcool gel; evite levar a mão ao rosto; limpe minuciosamente todos os objetos de uso frequente: celular, carteira, chaves etc. Higienize ainda mais a casa. Lembre-se das maçanetas, interruptores, controle remoto”, dentre outros objetos.
Para profissionais que exercem serviços considerados essenciais cuidado redobrado em casa, na rua e no trabalho. Para quem tem oportunidade de fazer home office, poder ficar em casa e conseguir praticar o distanciamento social recomendado pelos órgãos de saúde mundial, pode ser um respiro em meio ao caos que estamos vivenciando. Mas a pressão continua e ela vem de todos os lados.
Na internet, chuva de receitas para conseguir manter uma rotina saudável e produtiva em tempos de isolamento e quarentena: “mantenha horários rígidos e estabelecidos; tire o pijama; arrume-se como se fosse sair; organize o ambiente para trabalhar; mantenha o foco!” Dizem.
Se seu trabalho não permite realizar home office e você tem “tempo livre” em casa, a ordem é ocupar esse tempo da maneira mais produtiva possível: “faça cursos on-line; mantenha a rotina de exercícios físicos; não desvie da dieta; faça tudo que não tinha tempo de fazer, não tem desculpa pra ficar parado!” Ordenam.
A crítica aqui não é aos que compartilham experiências e alternativas na intenção de transformar esse momento que estamos vivendo menos tenso, ou aos que tentam atingir o mínimo de normalidade possível em tempos atípicos.
A problemática está em conduzir essas “dicas” como ordem geral. Somos seres distintos. Possuímos subjetividade, sentimos e reagimos de diferentes maneiras.
A psicanálise aponta que muitas vezes procurar estar sempre ocupado esconde uma necessidade de desacelerar e encarar momentos reflexivos, a necessidade de repensar hábitos, atitudes, comportamentos.
Se dê ao “luxo” de surtar, de deitar em posição fetal e chorar copiosamente, de passar o dia de pijama assistindo série, filme, lendo um livro despretensiosamente.
Não há nada de inútil ou fracasso em se permitir viver o ócio pelo ócio, porque agora, até a determinação do ócio é para que ele seja criativo. Isso, revela muito sobre a dinâmica da nossa sociedade, a alimentação desenfreada da competitividade e a busca constante pela alta performance.