“Você Importa”, uma mão para manter a cabeça no lugar no isolamento

Ilustração Banco da Saúde

O isolamento mexe com a cabeça das pessoas: medo, incertezas quanto ao futuro e quebra da rotina social deixam, em geral, todos mais ansiosos. Mas e as que já sofrem transtornos de depressão e ansiedade, como estão lidando com esse isolamento?

Anna Claudia de Oliveira Neves, de 44 anos, moradora da Maré, desde dezembro está em Búzios em emprego temporário numa pousada. Foi diagnosticada com ansiedade depressiva há mais de dois anos. Os ônibus intermunicipais para o Rio voltaram a circular nesta sexta-feria, 10, o que poderá melhorar sua situação. A proibição de circularem baixada pelo governador aumentava ainda mais sua sensação de isolamento.

“A quarentena tem despertado emoções diferentes. É um estresse profundo por tantas informações muitas vezes desencontradas sobre a pandemia. A ansiedade e depressão de forma triplicada. Me sinto desamparada, sem o apoio da minha família e de amigos por perto. É de pirar!” ela desabafa.

Do outro lado da depressão e da ansiedade está a escritora Corina Haaiga, mais conhecida como Cori, de 47 anos e moradora de Copacabana. Ela é responsável pelo projeto Você Importa, que surgiu em roteiros de vídeo para a campanha Setembro Amarelo, no ano passado, sobre doenças mentais e suicídio. Os vídeos viralizaram e ela teve a ideia de criar o Você Importa, hoje na maioria das redes sociais. São vários voluntários que atendem pessoas com transtorno de depressão, ansiedade e síndrome do pânico, pelo siteTwitter, Facebook e Instagram.

Cori diz que desde o início do isolamento recebe relatos de pessoas com crise de ansiedade, pânico e de muita solidão: “Antes da pandemia, as histórias se pareciam porque havia um ponto principal em todas elas: “O mundo inteiro está bem e eu não”. Hoje a narrativa mudou, todos estão inseguros e preocupados. Não há ninguém se divertindo”.

Anna diz que não tem muitos profissionais competentes ajudando pessoas com seu transtorno nas redes sociais: “Fiquei um tanto irritada, pois o diagnóstico é vazio. Tudo é baseado na pandemia e não há profundidade. Estou tentando o autocontrole das emoções e da mente”.

Ela também está sem medicação controlada há meses por falta de remédios nas unidades de saúde do Complexo da Maré. Antes de ir para Búzios, Anna não conseguiu pegar seus remédios, por erro nas receitas dos remédios controlados: “Ter meus remédios já seria um alívio. A ansiedade, insônia e dores no corpo, não me deixam num estado normal. Com eles creio que estaria mais serena.”

Cori diz que não tem um remédio ou exercício eficaz pra  esse momento que muitas pessoas estão passando: “É muita coisa! Não tem um manual de como atravessar, por isso, calma! Respire fundo, o mundo normal que conhecemos não existe, e isso já é muito pra lidar. Só tentem respirar.”

Mais informações no site www.projetovoceimporta.com.