Paixão de Cristo fora de época em Nova Jerusalém

Paixão de Cristo em Fazenda Nova é atração nacional - Foto novajerusalem.com.br

Padre Paulo está desolado, o dono do restaurante, que também é Paulo, faz contas, preocupado, e Geovani, o Secretário de Turismo, é só lamento. Pela primeira vez em 53 anos, o distrito de Fazenda Nova, no Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco, não encenará a Paixão de Cristo na Semana Santa. A comunidade que se orgulha do maior teatro ao ar livre do mundo e que recebe mais de 150 mil turistas e devotos nesta época está vazia.

“O sentimento é de um grande vazio aqui. O povo está muito triste. Sentimos na fala e no olhar”, descreve o padre Paulo César do Nascimento, um olho da religião e outro na vida dos sete mil moradores de Fazenda Nova.

“O impacto aqui é muito grande, não tem como mensurar. O pessoal vive em torno desses dez dias de apresentação da Paixão de Cristo durante a Semana Santa”, diz Geovani Barbosa, Secretário de Turismo do Brejo da Madre de Deus.

“No ano passado, vendia mais de 120 almoços por dia. Somos o restaurante mais próximo do local onde ocorre a Paixão de Cristo. Já tinha comprado muita coisa para atender a demanda grande, mas todo mundo foi pego de surpresa. É cumprir a quarentena e esperar passar”, lamenta Paulo Lopes Silva Neto, que está servindo quentinhas nesse tempo de vacas magras.

Ao todo, 450 atores e figurantes atuam no espetáculo. A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém agrega cerca de 600 profissionais, incluindo técnicos, eletricistas, sonoplastas, maquiadores, cabeleireiros e camareiras, entre outros. Geovani estima que três mil empregos são gerados em torno da encenação que se estende de 4 a 11 de abril, mas que foi adiada para 2 a 7 de setembro, “se Deus quiser”, como ensina a religiosidade popular.

O anúncio do adiamento veio em 14 de março. “Será um grande desafio para todos que fazemos a Paixão, uma vez que a mudança de data implicará a repactuação de muitas parcerias que envolvem o elenco, equipe técnica e governo estadual”, adianta Robinson Pacheco, presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova.

No elenco principal deste ano estão confirmados os artistas Caco Ciocler (Jesus), Edson Celulari (Herodes), Christine Fernandes (Maria), Juliana Knust (Madalena) e Sérgio Marone (Pilatos).

Por enquanto, está deserto o imenso teatro de 100 mil metros quadrados cercados por um muro de pedras de quatro metros de altura e com 70 torres de sete metros cada, nove palcos-plateias reproduzindo cenários naturais, arruados e palácios, além do Templo de Jerusalém.

Religião, história e calendário de eventos ficam em compasso de espera – a espera de que o coronavírus se vá e deixe o mundo tocar a vida sem sustos e prejuízos além dos que já tem.

(Com informações de João Valadares, em reportagem na Folha de S. Paulo)