Um dia todos nós fomos negros
“A África é Mãe. Mãe da humanidade.
Matriz de culturas dispersas pelo mundo.
A voz primordial da África ecoa hoje ao longo das Américas,
nos terreiros de candomblé e santeria,
nas alegres avenidas por onde desfilam as escolas de samba,
nas rodas de capoeira ou nos bares de jazz”
José Eduardo Agualusa
De 28 a 30 de agosto, o Rio de Janeiro recebe a primeira edição do Back2Black Festival, na histórica estação da Leopoldina.
O Back2Black Festival será um evento de proporções internacionais com o objetivo de relembrar a África como berço da civilização e celebrar o continente como pólo de discussão política e difusor de cultura.
Serão três dias de conferências, shows musicais, apresentações de dança, projeções de filmes, enfim, diversas manifestações político-culturais que evidenciam as particularidades do continente africano. Não se trata de um festival étnico. “O Back2Black Festival procura resgatar a importância da África em termos globais, para muito além dos eventos específicos do continente. Nossa abordagem vai desde a aparição do homem em tempos remotos naquela área até a miscigenação e os desdobramentos políticos e multiculturais ocorridos a partir de então, porque um dia todos nós fomos negros”, contextualiza Connie Lopes, diretora da Zoocom Eventos, empresa responsável pela concepção e realização do festival.
O Back2Black Festival pretende estimular a discussão e a reflexão a partir de temas que abrangem desde a atual situação no continente até o futuro da África, passando pelo desenvolvimento político-social a partir das artes. O que pode a África fazer para recuperar seu papel de continente produtor de cultura? O que podem os americanos afro-descendentes fazer para apoiar o continente africano no combate pela pacificação, a democratização e o desenvolvimento? Como criar pontes de afeto, estabelecer parcerias, criar as bases para um comércio mais justo? Essas são algumas das questões que serão abordadas durante o evento. As consequências desse processo, inevitavelmente, serão acompanhas e sentidas pelo resto do mundo.
Para os painéis de debate, foram escaladas personalidades de várias gerações, como a ativista política moçambicana, esposa de Nelson Mandela, Graça Machel e o músico senegalês Youssou N’Dour. O escritor e pintor sul-africano Breyten Breytenbach, um dos nomes mais fortes de resistência ao apartheid nos anos 1960, também estará presente. O Back2Black Festival traz, ainda, de um lado, o humanista popstar irlandês Bob Geldof, organizador dos concertos Live Aid e Live 8, criados para angariar fundos para os países da África e, do outro, a economista zambiana Dambisa Moyo, autora do recém-lançado livro “Dead Aid”, no qual defende a polêmica tese de que a ajuda internacional piora a vida dos africanos. Completam a lista o cineasta sul-africano vencedor do Oscar Gavin Hood (pelo filme Tsotsi), o escritor angolano José Eduardo Agualusa – curador das conferências do evento – e os brasileiros Gilberto Gil, Alberto da Costa e Silva, Kátia Lund e MV Bill.
Não menos importantes são os nomes dos artistas que compõem os quadros musicais. Logo na estreia, dia 28, o Back2Black Festival traz shows de Gilberto Gil e Youssou N’Dour, “a maior voz da África”, com participação de Marisa Monte. No sábado, 29, se apresentam MV Bill e a banda Black Rio (com Ed Motta e Mano Brown e MC Ice Blue, ambos do Racionais MCs) numa homenagem a Tim Maia. No domingo, 30, Mart´nália comanda uma celebração do samba que traz, do lado brasileiro, D. Ivone Lara, Marina Lima, Luiz Melodia, Maria Gadu, Margareth Menezes e Rodrigo Maranhão; Angelique Kidjo (Benin), Paulo Flores (Angola) e Mayra Andrade (Cabo Verde) representando a África; e a abrilhantada bênção da cubana Omara Portuondo.
Destaque também para intercâmbio inédito de ritmos característicos das chamadas periferias globais: no sábado, em um só palco, o funk carioca do DJ Sany Pitbull encontra o kuduro de Angola, representado pelo DJ Znobia, e o krumping de Los Angeles (DJ Goofy, Miss Prissy, Deuce, Bad Newz e Out Law); em comum entre eles, a influência dos ritmos da África. Projeções de imagens de tribos africanas vão amarrar as apresentações.
Para um evento desse porte, a Estação da Leopoldina será especialmente adaptada pela consagrada cenógrafa Bia Lessa, que transformará o local em uma pequena África no Rio de Janeiro, a partir de mapas, textos e fotos estrategicamente distribuídos pelo espaço, com a montagem da instalação permanente “Somos todos Africanos. Somos todos Humanos. Back to Black”. “A cenografia vai apresentar parte da diversidade cultural e geográfica do continente africano. Como berço da civilização, a África abriga de alguma forma um pouco de cada povo – na África encontramos todo o mundo. Não temos a pretensão de apreender o que esse continente pode nos oferecer de melhor, podemos expor algumas de suas contradições e riquezas”, comenta Bia Lessa. As galerias e espaços de conveniência terão capacidade para receber cinco mil pessoas por dia, com estacionamento para 1500 veículos. As estações também serão repaginadas para abrigar os bares, lojas e sala de imprensa. Instalações vão explorar possibilidades tecnológicas e multi-sensoriais, unindo iluminação e som, fragrâncias, texturas e sabores das culinárias afrocreole e afrobrasileira.
Todo o evento será documentado e dará origem, no fim do ano, ao Back2Black Manifesto, um conjunto que compreende livro, exposição e um documentário cinematográfico. Parte desse material será destinada a escolas de ensino médio e fundamental em todo o país. Jornalistas brasileiros e estrangeiros serão co-autores das conclusões a serem publicadas no Back2Black Manifesto.
Nesses três dias, o Back2Black Festival se propõe, sobretudo, a ser um ponto de encontro: da política com a cultura; da consciência social com a música; da dança com o cinema; da literatura com o consumo; da tradição histórica com o pensamento contemporâneo; do homem consigo mesmo. Daí a característica única e ao mesmo tempo abrangente do Back2Black Festival. Afinal, um dia, todos nós fomos negros.
28 DE AGOSTO (SEXTA-FEIRA) |
20 às 21h30- conferência – “Construindo Utopias” |
Bob Geldof Cantor, compositor e ativista irlandês, o ex-Boomtown Rats (e Cavaleiro da Coroa Britânica) Sir Bob Geldof é o responsável pelo megafestival Live Aid, em benefício da Etiópia – e posteriormente, com o Live 8, de toda a África. Breyten Breytenbach O artista sul-africano Breyten Breytenbach nasceu na cidade de Western Cape, e foi um dos grandes nomes na luta contra o Apartheid. Pintor e escritor, foi preso por retornar a África do Sul após se casar com uma francesa de origem vietnamita – contrariando a proibição vigente à época. Foi preso e libertado após forte mobilização internacional, retornando para a França, onde ajudou a fundar a Okhela – um grupo de resistência ao Apartheid composto por exilados. Atualmente, preside o Gorée Institute, no Senegal. mediador: José Eduardo Agualusa Agualusa é um premiado escritor e cronista Angolano, de grande sucesso em Portugal – onde estudou agronomia. Já teve sua obra traduzida para diversos países, encontrando reconhecimento internacional em 2007 ao se tornar o primeiro escritor africano a vencer o cobiçado Prêmio de Ficção Estrangeira do jornal britânico The Independent. |
Shows: “As Vozes da África e do Brasil” |
22h – Gilberto Gil (show acústico) |
23h30 – Youssou N’Dour (participação: Marisa Monte) Cantor e percussionista senegalês, nascido em Dacar, N’Dour é figura central na cultura africana e na política de seu país. Possivelmente o cantor mais conhecido da África, começou ainda nos anos 70, ao lado da Star Band. Ao final daquela década e começo dos anos 80, o músico já havia desenvolvido estilo próprio e começava a formar o conjunto que o acompanha até hoje. Já gravou com nomes como Neneh Cherry, Bruce Springsteen, Paul Simon, Sting, Peter Gabriel e Tracy Chapman, além de ter vencido o Grammy de Melhor Álbum de World Music Contemporânea em 2005 por "Egypt". |
29 DE AGOSTO (SÁBADO) |
20 às 21h30 – conferência: “Cultura e Desenvolvimento” |
Gavin Hood O cineasta sul-africano Gavin Hood tem uma trajetória interessante: educado em Direito em Johanesburgo, e em cinema em Los Angeles, Hood começou dirigindo curtas-metragens para o Ministério da Saúde de seu país. Depois de poucos longas (um deles em polonês) e uma indicação como “Top 10 Cineastas Promissores” pela revista Variety, venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por “Tsotsi” (de 2005). Seu passo seguinte foi ousado: assumiu o comando de uma das franquias mais lucrativas da história do cinema – e um dos personagens mais queridos dos quadrinhos – ao dirigir o filme “X-Men Origins: Wolverine”. Youssou N’Dour MV Bill mediador: Kátia Lund |
Shows |
22h – Mv Bill 23h30 – Banda Black Rio – show em homenagem a Tim Maia convidados especiais: Ed Motta Mano Brown (Racionais Mcs) Ice Blue (Racionais Mcs) |
01h – Encontro das Periferias: Funk Carioca: – DJ Sany Pitbull e bailarinos Kuduro de Angola: – DJ Znobia e bailarinos Cria do Bairro do Rangel, na capital da Angola, Luanda, o DJ Znobia é considerado um dos maiores nomes da produção musical local. Alcançou popularidade ao mesmo tempo em que seu estilo de escolha, o Kuduro, começava a ganhar espaço pelo mundo – através de nomes como M.I.A., Diplo, e Buraka Som Sistema. O produtor auto-didata começou como dançarino, imitando passos de Michael Jackson. Depois de tentar uma carreira de cantor sem ser levado a sério, resolveu aprender a produzir observando outros DJs atuarem. Hoje, é referência na cena, com canções e remixes em alta nas pistas européias. Krumping de Los Angeles – DJ Goofy – Miss Prissy Estrela do filme “Rize”, de David LaChapelle. Também já trabalhou com Madonna. – Deuce – Bad Newz – Out Law |
30 DE AGOSTO (DOMINGO) |
17h às 18h30- conferência: “A África na Construção do Mundo. O Futuro” |
Dambisa Moyo A economista pós-graduada pelas Universidades de Harvard e Oxford Dambisa Moyo nasceu em Lusaka, na Zâmbia. Após trabalhar no Banco Mundial e no banco de investimentos Goldman-Sachs, Moyo tornou-se diretora de uma fundação que atua na área de microfinanciamentos na África. Causou polêmica recentemente com a publicação do livro "Dead Aid" ("Ajuda Morta"), onde condena o envolvimento de celebridades com a causa Africana, afirmando que a única chance do continente para o desenvolvimento é o investimento interno e a conscientização dos governos locais. Foi escolhida em maio deste ano pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Graça Machel Graça Machel é moçambicana, nascida em 1945, e uma respeitada defensora dos direitos das mulheres e das crianças. Terceira esposa de Nelson Mandela, Graça também é viúva do ex-presidente de Moçambique, Samora Machel. Foi Ministra da Educação e da Cultura em sua terra natal, e seu trabalho humanitário já foi premiado diversas vezes. Gilberto Gil mediador: Alberto da Costa e Silva |
Show: “Celebração do samba” – conduzido por Mart’nalia |
19h – Mart’nalia Brasil: – Dna. Ivone Lara – Luiz Melodia – Marina Lima – Maria Gadu – Margareth Menezes – Rodrigo Maranhão África: – Angelique Kidjo (Benin) Nascida no Benin, a cantora Angélique Kidjo é uma das maiores estrelas da música no continente africano. Vencedora do Grammy de Melhor Álbum de World Music Contemporânea em 2008, com “Djin Djin”, Kidjo apresenta no disco convidados do naipe de Peter Gabriel, Alicia Keys, Joss Stone, e o guitarrista Carlos Santana. – Paulo Flores (Angola) Paulo Flores começou a gravar no final dos anos 80, e hoje é um dos músicos mais populares de Angola. Nascido em Luanda, Flores possui forte envolvimento político, tratando em suas letras de temas como guerra civil e corrupção. Seu estilo é o Semba – que apesar de não ser Samba, também canta as belezas da mulher e do povo Angolano. – Mayra Andrade (Cabo Verde) Nascida em Cuba e criada em Cabo Verde, a cantora Mayra Andrade hoje vive na França, onde lançou seu último álbum, "Stória, stória…". Sua conexão com a música brasileira vai além da língua portuguesa: influenciada por nomes como Elis Regina e Caetano Veloso, parte de seu trabalho mais recente também foi gravada no Brasil. Recombinando referências multiculturais, Mayra atingiu um som bastante individual, mas ao mesmo tempo, familiar a todos nós latinos. Cuba: – Omara Portuondo Uma das mais notórias cantoras na história da música latino-americana, Omara foi redescoberta pelo resto do mundo no documentário do cineasta Wim Wenders, "Buena Vista Social Club" – que resgatou vários e geniais artistas cubanos relegados ao ostracismo. Durante os anos 50, a cantora teve breve sucesso nos Estados Unidos gravando ao lado de Nat King Cole com o Quarteto D’Aida, do qual fazia parte. Em carreira solo, apresentou-se diversas vezes na Europa e Estados Unidos, combinando de forma única a música cubana e o jazz. Ativista de forte preocupação social, Omara Portuondo gravou canções em que saúda o líder chileno Salvador Allende e o mito socialista Che Guevara. Sua carreira ganhou nova força com o sucesso de "Buena Vista", e desde então a artista já lançou mais de 10 novos álbuns, incluindo um em dueto com a cantora brasileira Maria Bethânia. |
Instalação – permanente – autoria Bia Lessa |
“Somos todos Africanos. Somos todos Humanos. Back to Black” |
Back2Black Festival
Concepção, produção e realização: Zoocom Eventos Ltda (Connie Lopes, Julia Otero, Silvio Matos e Philippe Neiva)
Direção de arte e cenografia: Bia Lessa
Curadoria das conferências: José Eduardo Agualusa
Produtores Associados: Carla Vasconcelos e Karla Osório
Produtora Executiva : Clarice Philligret
Serviço:
Back2Black Festival
Local: Estação Leopoldina
Endereço: Rua Francisco Bicalho s/n
Telefone: 2535-9848
Dias: 28, 29, 30 de agosto
Horário: sex/sab 19:00 abertura dos portões, 20:00 palestra, 22:00 show;
Dom: 16:00 abertura dos portões, 17:00 palestra, 19:00 show
Preços (cheios e promocionais):
palestra e show: R$80,00; show: R$60,00
combo 2 dias (palestras + shows): R$130,00
combo 3 dias (palestras + shows): R$160,00
(estudantes e professores de rede pública pagam meia)
Capacidade de público: 5000
Classificação etária: 16 anos
Forma de pagamento:
Cartões de crédito e débito aceitos para pagamento de ingresso:
FNAC – Barra (Todos os cartões)
Piraquê – Lagoa (Amex)
Modern Sound – Copacabana (Mastercard e Visa)
Bougainville – Tijuca (somente em dinheiro)
São Bento – Niterói (somente em dinheiro)
Três Pontos – Campo Grande (somente em dinheiro)
Alfa Brasil – Jacarepaguá (Visa)
Call Center (todos os cartões)
Internet (todos os cartões)
Funcionamento de bilheteria para vendas antecipadas e na hora: No dia do evento a partir das 12:00
Estacionamento: 10 reais
Manobrista: sim
Venda de Ingresso por site: www.ingressorapido.com.br
http://201.77.198.54/ingressorapido.com.br/Evento.aspx?ID=7652
Pontos-de-venda de ingresso:
FNAC – Barra
Piraquê – Lagoa
Modern Sound – Copacabana
Bougainville – Tijuca
São Bento – Niterói
Três Pontos – Campo Grande
Alfa Brasil – Jacarepaguá