Como entender a dinâmica da participação política em tempos de rede social.

 

Por Guilherme Vargues*

 

Mark Zuckerberg do Facebook e Larry Page da Google.

Em fevereiro passado, a revista Forbes elegeu Larry Page, CEO da Google, o jovem executivo mais poderoso do planeta, alguns meses depois, Mark Zuckember se torna o décimo nono homem mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada em 19,3 Bilhões. Hoje, a empresa Google é avaliada em US$199 bilhões, enquanto o Facebook em US$ 104,2 bilhões.  São duas das maiores corporações capitalistas do planeta e detêm juntas quase que 60% da fatia do mercado da internet.

Estas duas megaempresas controlam boa parte do acesso a informação na rede, a maior parte das empresas, seja de qual porte for, a Coca Cola, a Globo Televisão, ou mesmo uma loja de departamentos, têm sua página no Facebook e tem seus produtos localizáveis pelo Google. Estes dois sistemas se tornaram uma chave determinante na economia de todo o planeta.  Não existe mais internet e vida social sem pensar nestas duas empresas.

O Google é um dos sites mais acessados do mundo, mas seu valor real não está só ai, está na capacidade de seu sistema agregar a cada usuário uma série de dados relativos ao seu uso da internet. Explicando, o Google vai armazenando tudo que você pesquisa assim vai montando o banco de dados social mais completo que o mercado pode dispor. Em recentes declarações, Larry Page, CEO do Google, afirmou que a empresa não utiliza estes dados para práticas lesivas de concorrência e sim para pesquisa de aperfeiçoamento de sua relação com o usuário, mas de qualquer forma o Google detém está informação, e pode, a qualquer momento negocia-la com o mercado.

O Google e o Facebook: A utopia da empresa  yuppie

Saindo da utopia de empresas “yuppies” podemos elencar aqui uma série de saídas de mercado que podem ser utilizadas pelo Google e pelo Facebook . 1 – O Google e o Facebook podem privilegiar determinadas empresas em suas buscas; 2 – Ambos podem negociar a qualquer momento seu banco de dados no mercado; 3- As duas empresas se tornaram o principal intermediário entre a fonte de comunicação e o espectador.

Se os dois primeiros elementos se ligam diretamente ao mercado, o terceiro elemento é o mais perigoso. Manifestações são marcadas pelo Facebook, diversos eventos divulgados, filmes e artigos disponibilizados e compartilhados. Mas quem detém o filtro, o controle e a censura?  O detalhe determinante aqui é não confundir o que é privado com público, o Facebook e o Google não são sistemas livres, são empresas, e em pouco tempo controlam quase todo o tráfego de informação na internet.

Outro fator perigoso é ligação entre as redes sociais e os governos. Tanto o Google, quanto o Facebook podem ser utilizados pela polícia e pelos governos como forma de controle social. Até ai para todo mundo, mas não esqueça que quem detém o controle da informação é a corporação.

Se o internauta não usar a rede está fora da comunicação. Em alguns casos, a própria rede social pode servir de espaço para a denúncia. Os usuários são mais rápidos que os sensores e gostam de divulgar os problemas na rede, a questão é que sempre, estará ali, um panóptico, uma espécie de Big Brother, e que, com todo o visual “yuppie” também é uma corporação.

O Facebook é o mais novo agitador do mercado de ações, e uma questão é determinante para este sucesso, sua capacidade de controlar a informação e a comunicação entre as pessoas. Se a maior parte das interações entre as pessoas se dá pela rede social, estas interações estarão, no mínimo, influenciadas pelo modelo escolhido pela empresa e por quem possa influir em suas decisões corporativas.

Qualquer grande corporação do planeta quer ter seu produto vinculado ao Facebook. Ao invés da publicidade tradicional um produto pode ser lançado de forma muito mais sofisticada via rede social, o interessante, é que na rede social a publicidade vai se confundindo com estilo de vida.

Enfim, a rede social se tornou nossa principal interface de comunicação com as pessoas e com outras instituições, corporações e etc. O que quero concluir aqui, a parte a eficiência deste negócio, ele tem como principal organizador uma corporação, dona do veículo de comunicação mais sofisticado do planeta.

 

O movimento Anonymous cria a sua prórpia rede social: Anonplus

Em setembro do ano passado, o movimento Anonymous, famoso no mundo inteiro, por suas intervenções políticas anti-sistêmicas, resolve responder as constantes censuras do Facebook a suas atividades com o lançamento da sua própria rede social, segundo comunicado em sua página: “Estamos construindo nossa própria rede social. Já aguentamos o bastante de governos e corporações dizendo o que é melhor para nós e o que é seguro para nossas mentes. O tempo das ovelhas acabou”.

Outra estratégia interessante, é a criação de uma nova moeda virtual, o Anon+. Esta seria uma tentativa do grupo estabelecer intercâmbio de mercadorias e ideias “sustentáveis”, desde livros, filmes, até projetos de energia eólica. Segundo o próprio grupo, o limite disso tudo ainda é incalculável, o projeto que tem poucos meses de vida já conta com vários técnicos trabalhando em sua elaboração, a página, ainda incompleta em suas funcionalidades anunciadas, já pode ser acessada no endereço: anonplus.com .

Em tempo, recentemente um vídeo na internet anunciou um ataque hacker do grupo ao Facebook. O próprio grupo respondeu em sua página que não fez e nem faria tal ataque.

 

Sem ilusões

Ao compartilhar receitas, uma fotografia de verão, alimentamos o sistema social mais caro do planeta, disso não tenho dúvida. Quando começaram a aparecer as denúncias de utilização do conteúdo, das censuras e banimentos, entendemos que o mundo das rede-sociais não era assim tão livre e eficiente no intercâmbio democrático de conteúdo.

Democratizar a rede é a tarefa de qualquer governo, instituição e cidadão do campo progressista. Sem embargo, é preciso ampliar o acesso popular a banda larga, mas também é fundamental oferecer conteúdo, de qualidade, livre e sem matizes econômicas que sejam determinantes na elaboração destes veículos.

Se você acha a grande mídia brasileira imparcial e democrática, então você também não terá problemas com o Facebook. Mas se você precisar questionar, por onde vai fazer? Continue usando a rede, porém não deixe de construir os espaços alternativos e independentes de comunicação na web. É uma forma de nos comunicarmos e trocarmos sem o olhar corretivo das grandes corporações.

Relembrando Gramsci, aqueles que desejam mudar o mundo, devem estar em todo o lugar possível, mas devem construir seus próprios veículos de disputa de hegemonia. Vou continuar, como você, utilizando meu Facebook para várias coisas, mas vou ciente de que para desejos mais auspiciosos as redes sociais tem um limite bem abaixo do céu.

Guilherme Vargues é sociólogo. Artigo também publicado na Revista Estopim.