A realidade periférica das universitárias em tempo de pandemia

Emanuela Tomaz estuda em Florianópolis e é da Vila Kennedy - Foto Bia Carvalho/ANF

As favelas e periferias possivelmente são as áreas mais afetadas pelo coronavírus, porque são as que mais sofrem com a falta do básico em termos de políticas públicas, como saneamento, água encanada e luz, que não chegam efetivamente para os moradores.

Embora a quarentena seja uma medida necessária, ela traz consequências difíceis de lidar, sobretudo para as famílias mais pobres, que não podem trabalhar e vêem seu orçamento doméstico comprometido. Realidade parecida está acontecendo com a estudante de Biomedicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Eliza Passos, 25 anos, diarista, que nesse período não encontra trabalho. É o retrato de muitas famílias no Brasil.

“Por isso, será muito importante o apoio do governo, criando medidas que ajudaram todas as famílias a conseguirem enfrentar a quarentena”, reconhece a universitária, que é moradora do Dique, São João De Meriti, cidade da Baixada Fluminense.

Eliza Passos em casa São João De Meriti
Em casa há um mês, Eliza Passos teme não conseguir defender sua monografia. Imagem: Arquivo pessoal.

No bairro de Honório Gurgel, na capital carioca, a estudante de Engenharia de Alimentos na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Juliana Carmo, 20, fala sobre o andamento do curso nesse período de crise do Coronavírus.

“Aulas à distância são uma ótima opção para quem tem acesso a diversos recursos,  internet e aparelho celular, tablet, computador. Infelizmente, muitos ainda não dispõem desses meios”, desabafa.

Já na Cidade de Deus, uma grande favela da Zona Oeste da cidade do Rio, para a estudante de Relações Internacionais na UFRRJ Isadora Siss, 20, a preocupação com a prevenção da Covid-19.

“Atualmente, há áreas da comunidade com falta de água. As favelas cariocas se tornaram especialmente vulneráveis ao vírus tanto pela constante falta de água, quanto pela falta de renda para aumentar as compra por materiais de higiene, além da falta de informação, que não chega nessa parcela da população”, finaliza.

Moradora da CDD
Na Cidade De Deus, Isadora Siss está sem aula presencial desde o início do isolamento social. Imagem: Arquivo pessoal.

Vivendo entre o Rio de Janeiro e Florianópolis, a estudante de Museologia, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Emanoela Tomaz, 22, hipertensa, é moradora da Vila Kennedy reflete sobre a juventude favelados.

“Precisamos preservar nossas vidas, ao contrário do que pensam, os jovens estão morrendo com esse vírus. E o que não tá sendo feito? Políticas públicas de saúde estão sendo aplicadas de fato a esses jovens? Vamos ficar em casa, vamos colaborar, vamos torcer que isso seja apenas uma fase ruim para gente sair dessa mais forte, menos vulnerável e pensando em novas alternativas para um bairro, estado, Brasil e mundo melhor”, diz a estudante, esperançosa.

Em SC Manu Tomaz na sala de aula
Isolada em Florianópolis, Emanoela Tomaz, sente falta de está com a mãe na Vila Kennedy. Imagem: Arquivo pessoal.

Buscar um futuro mais digno através de uma formação profissional que qualifique no mercado concorrido de trabalho é o objetos das jovens. O coronavírus afetou todo o sistema público e, também, a vida dos jovens universitários. Programas governamentais como auxilio moradia e bolsas de iniciação científica precisam ser implementados e de fato entregues a quem precisar. O que nos cabe é torcer com esperança que o Covid-19 vá embora e leve junto a desigualdade instaladas nas favelas do Rio.

movimentação na favela CDD
Na Cidade De Deus, ruas com pouco movimento durante a pandemia da Covid-19. Imagem: Arquivo pessoal.