“Agora é que nós vamos pagar o preço por essa desigualdade social com a qual nós convivemos por décadas e décadas, aceitando como uma coisa praticamente natural. Agora vem a conta a pagar. Porque é a primeira vez que nós vamos ter a epidemia se disseminando em larga escala em um país de dimensões continentais e com tanta desigualdade”.
O desabafo é do médico oncologista Dráuzio Varela, em entrevista à BBC Brasil publicada hoje, 20. Ele se penitencia por ter sido um dos que acharam que o coronavírus seria responsável por uma gripe de letalidade baixa e que foi surpreendido como todo mundo (menos Bolsonaro) da gravidade da doença.
Na sua opinião, vrncer o avanço da pandemia exigirá estratégias e obstáculos diferentes dos que foram observados na Europa e na Ásia. A principal peculiaridade brasileira é a imensa desigualdade social, que limita o acesso de grande parte da população às práticas que previnem o contágio, como lavar as mãos, comprar álcool gel e praticar o isolamento social.
Há no país 35 milhões sem acesso à rede de água potável, segundo dados do Instituto Trata Brasil de 2017. Em 2018, antes da crise do coronavírus, eram 13,5 milhões os brasileiros abaixo da linha da extrema pobreza, ou seja, sobrevivendo com menos de R$ 145 por mês.