O dia em que o corona teve nome e sobrenome

Marinalva Macedo Lima morreu por falta de vaga - Foto da família

Esses dias têm sido particularmente difíceis pra mim. Essa pandemia me tirou o sono, a paz, a renda e agora…. Marinalva.

Marinalva se casou com meu avô antes de eu nascer, então ela era como se fosse sim a minha avó. Uma grande guerreira, tinha força nas palavras. Uma baiana cheia de energia e com um sotaque que jamais morria mesmo vivendo tantos anos no Rio de Janeiro. Ela foi a última da primeira geração de mulheres fortes, que minha família coleciona.

Marinalva morreu no final da noite desse domingo 26. Um domingo que eu não dormi, pois tinha que ir de madrugada pra fila da Caixa Econômica Federal com minha irmã pegar o auxílio emergencial dela. Saímos de casa 5 horas da manhã, e pra minha desagradável surpresa…estava tendo uma festa na rua em que passamos.

Muitos jovens, rindo, se abraçando, se beijando, bebendo e não ligando pra essa “tal de pandemia”. Aquilo me gerou uma revolta muito grande. Vocês não fazem ideia da raiva que eu senti.

Aqui na Maré tem uma frente de mobilização pra conscientizar os moradores sobre o coronavírus. Eles estão arriscando suas vidas todos os dias, pregando faixas em lugares públicos, distribuindo cestas básicas, colocando kits de limpeza nos postes pros moradores limparem as mãos. Um trabalho arriscado e feito com amor. Mas, pra que? Por que? Eles se importam? Pouquíssimos se importam, na verdade. Lotando bares, rindo da sua cara, se vê você de máscara, como se você estivesse errado e eles certos. Andando bêbados nas ruas como se fosse um carnaval fora de época.

Marinalva morreu na maca do UPA do Méier porque não conseguiu vaga numa UTI em nenhum hospital do Rio de Janeiro. Minha ente mais que querida perdeu uma vaga porque pessoas como essas acham que a pandemia é balela, ou que eles não fazem parte do grupo de risco.

Estou com tanta raiva disso. Raiva de viver no país em que tudo tem um “jeitinho” de fazer a coisa errada. Uma piada de mau gosto com pessoas sem noção. Eu queria enfiar naquele momento no peito de cada uma delas a indignação que eu tava sentindo, junto com a dor da minha perda.

Ela morreu e, sim, o que vocês vêem na TV é verdade, não tem despedidas. Você tem ideia que não é se despedir de uma pessoa que você conhece desde que nasceu e protagonizou junto contigo várias páginas da sua história?

Esse texto é pra dizer que o Covid19 já tirou alguém que amo de minha vida. Será que as pessoas só vão levar a sério quando elas sentirem o mesmo que eu?

São tempos sombrios, não há como negar. Mas o pior de tudo, é ter que depender do bom senso das pessoas. Essa é a parte que eu vi que não está dando certo.