O presidente Jair Bolsonaro disse esta manhã, Dia do Trabalhador, em gravação da deputada Bia Kicis no Palácio da Alvorada, que “gostaria que todos voltassem a trabalhar”. A declaração atendeu pedido da deputada de uma mensagem sobre o Primeiro de Maio e ela estava acompanhada de um grupo de agricultores que foram agradecer a destinação de mais recursos.
Na véspera, Bolsonaro já havia pregado mais uma vez contra o isolamento social alegando que governadores e prefeitos, com o precioso auxílio do Supremo Tribunal Federal, “não conseguiram achatar a curva” da pandemia: “O Supremo decidiu que as medidas para evitar ou para fazer a curva ser achatada— caberiam a governadores e prefeitos. Não achataram a curva. Governadores e prefeitos que tomaram medidas bastante rígidas não achataram a curva”.
Ambas as falas do presidente não passam de exercício retórico, porque as medidas restritivas adotadas visam precisamente fazer o país voltar ao trabalho mais rapidamente, reduzindo as chances de colapso do sistema de saúde; e, em segundo lugar, mas não menos importante, o cenário que o país enfrentaria sem o isolamento social, com mortes e contágio fora de controle estará sempre no campo das especulações.
O presidente tenta se eximir da responsabilidade dos resultados da pandemia explorando o sentimento das camadas carentes da população, que sentem com mais rigor os efeitos da quarentena, a perda do trabalho informal e a falta de dinheiro para o dia a dia.
O presidente da república não abriu a boca, por exemplo, para elogiar e defender os esforços de entidades da sociedade, empresas privadas, associações e organizações não governamentais na ajuda aos mais necessitados com doações de cestas básicas, kits de higiene e até dinheiro para mitigar os efeitos das medidas emergenciais que afetam toda a população.
E para encerrar, coerente com sua postura desde o começo da pandemia, o presidente gravou sua mensagem na residência oficial, o Palácio da Alvorada, descansando no Dia do Trabalhador, quando poderia visitar alguns hospitais públicos e ajudar na distribuição de alimentos, por exemplo, numa demonstração concreta da preocupação com o estado do brasileiro que votou nele nas últimas eleições.