Por Carlos Bruce Batista

Fazem alguns dias que meu artigo,"Traficante’ de baile funk” foi publicado no site do Jornal O Globo. Os mais de cem comentários, invariavelmente, ligavam o funk ao tráfico de drogas, os bailes à violência e até mesmo eu aos traficantes. Nada que eu não esperasse.

 

O que me chamou atenção foram os comentários destes mesmos leitores, de uma notícia publicada também no mesmo site dois dias depois. A notícia dava conta de uma decisão judicial que não permitiu a realização de festa Rave em Búzios.

 

Os primeiros comentários classificavam como absurda e fascista, a decisão do Desembargador. Alguns comentários diziam, inclusive, que o que deveria ser proibido eram os bailes funk, onde o comércio varejista de drogas seria mais ostensivo.

 

Foi um grande passo, sem dúvida alguma, a revogação da lei 5.625/08 do ex-Deputado Álvaro Lins. O reconhecimento cultural de um movimento que existe há pelo menos trinta e cinco anos também foi de grandíssima relevância.

 

Porém, o cerne do que leva o funk a ser criminalizado está enraizado na superfície de um país que carrega consigo o peso histórico de criminalizar os pobres e, consequentemente, seus lugares.

 

Com o funk recepcionado e abrasileirado nas favelas cariocas, o resultado não podia ter sido outro. Assim sendo, o estilo musical passou por um processo intenso de demonização midíatica, ligando o ritmo a brigas, confusões, tráfico e violência. 

 

Como se as brigas e confusões não existissem em qualquer evento com grande concentração de pessoas. Como se já não existisse o comércio de drogas ilícitas em comunidades, antes mesmo da realização do primeiro baile funk no Rio, no início dos anos 70, quase vinte anos antes dos bailes serem acolhidos nos morros e favelas cariocas.

 

Desta forma, o passo dado ainda é muito pequeno perto do que ainda há pela frente.

 

Dos escravos de ontem aos funkeiros de hoje, dos quilombos de outrora às favelas contemporâneas, o alvo central de seletivas políticas públicas permanece sendo a parte mais vulnerável do nosso país.

 

Neste sentido, ainda que a lei 5.625 – que também abrangia a realização de festas raves– tenha sido revogada, diga-se de passagem, por uma articulação funkeira, os bailes, os morros, as favelas e o funk, continuaram sendo vistos com um olhar desconfiado, pronto para serem a caça novamente.

 

Os comentários dos leitores deixam muito a par esta realidade.

 

O momento é de reconhecimento e comemoração, mas também de reflexões e calma… muita calma!

 

Em tempo, gostaria de me colocar publicamente contra a realização do baile funk no Palácio Guanabara. Não concordo com está política de enfrentamento adotada pelo Estado.

 

Não acho o atual governo digno de representatividade de uma festa favelada.