Ensino superior para quem?

A decisão de manter o calendário de provas do ENEM é um projeto para dificultar ainda mais que alunos pretos, periféricos, estudantes de escolas públicas tenham acesso ao ensino superior.

É cruel considerar que todos os alunos do país têm as mesmas chances, que partem do mesmo lugar. Não levar em conta as péssimas condições habitacionais, sanitária, financeiras, sociais de milhares de alunos é um retrato da injustiça e desigualdade deste país.

Uma casa ou apartamento com cômodos separados, organizados, silenciosos. Computador, celular, internet de qualidade. Livros, apostilas atualizadas, Vídeoaulas de professores da educação regular e de professores de cursinhos preparatórios, não é a realidade de todos os alunos.

Se até para jovens de famílias privilegiadas, adaptar-se a esse novo formato de aprendizagem e preparação é desafiador. Imagina para quem mora em um lugar onde não há espaço individual, silencioso, tampouco computador ou internet.

Alunos de escolas públicas não estão recebendo suporte de aulas online. E mesmo que estivessem, pouquíssimo teriam condições mínimas para acompanha-las. Seus familiares estão em casa, sem trabalho, sem dinheiro, muitas vezes sem comida, arriscando suas vidas nas filas imensas da caixa econômica para tentar receber o auxílio emergencial já comprometido.

É perverso não reconhecer este abismo. É insensível não considerar uma pandemia que assolou todo o mundo e só cresce no Brasil.

A persistência do governo em manter o calendário de provas do ENEM sem considerar todas essas problemáticas já responde meu questionamento inicial.