Pesquisadora vê polícia como instrumento de “matança e terror”

Sílvia Ramos, pesquisadora da violência no Rio - Foto da internet
“A sucessão de mortes violentas nos últimos dias no Rio de Janeiro demonstra que as polícias fluminenses se tornaram instrumentos de matança e terror. O foco em operações violentas e bélicas, especialmente em um momento em que a pandemia tornou mais agudas as dificuldades das comunidades, é incompatível com o principal papel das forças policiais: garantir a dedicado  segurança da população”.
A opinião da cientista política Sílvia Ramos, do Observatório da Segurança do Rio de Janeiro, reflete a preocupação presente no meio acadêmico que agora está num crescendo compatível ao aumento da violência policial nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. Com base em informações publicadas em veículos jornalísticos, redes sociais, grupos de WhatsApp e Telegram e outras fontes, o Observatório da Segurança RJ, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, monitora operações policiais desde o ano passado.
Os dados relativos ao período da pandemia, de 15 de março à última terça-feira, 19, mostram que as polícias fluminenses mudaram sua atuação no início logo após a decretação de medidas de isolamento social, mas logo voltaram a adotar o foco em operações violentas e letais. Reduzidas em março, as operações aumentaram 28% em abril, em relação a abril de 2019. Nos três meses, foram monitoradas 120 operações policiais e 36 ações de combate ao coronavírus.
As ações policiais criadas em março para enfrentar a Covid-19 diminuíram em abril e maio e as operações motivadas por “combate ao tráfico de drogas” cresceram. Em abril houve 58% mais mortes nas operações monitoradas do que no ano passado e até o dia 19 de maio já foram registradas 16,7% mais vítimas fatais do que no mesmo período do ano passado.
Durante a pandemia, de 15 de março a 19 de maio, a polícia matou 69 pessoas em operações monitoradas. “Não é possível que as polícias não possam atuar sem causar tanta dor e morte. O governador Wilson Witzel é responsável pelo descontrole da polícia, que diariamente comete os erros e aumenta as tragédias. O que o governador está fazendo?”, indaga Sílvia Ramos com indignação.