Lembranças das “Diretas Já!” reforçam os ânimos nos manifestos pela democracia

Manifestos pela democracia que ocuparam praças e avenidas no país no último dia de maio mereceram espaço nas redes sociais como era de se esperar, mas também ganharam destaque nas páginas impressas, e isto traz à lembrança tempos épicos das Diretas Já, movimento da primeira metade da década de 1980, quando a ditadura militar desgastada  não tinha mais apoio nem do empresariado que a financiara em 1964.

É cedo ainda para apontar nos movimentos atuais reação de igual magnitude, mas os sinais são de mudança de postura. Há 35 anos, o país não suportava mais os desmandos militares, explosões em bancas de jornais, a bomba no Riocentro na noite de 30 de abril de 1981. A anistia de 1979 abrira as grades aos presos políticos, os exilados voltavam ao país, parecia a retomada da normalidade democrática. Foi naquela década também que se ouviu pela primeira vez o nome de Jair Bolsonaro, autor da ideia de explodir a adutora do Guandu, no Rio de Janeiro, para forçar o aumento dos soldos no Exército.

Ao que parece, Bolsonaro e seus acólitos militares no centro do poder não devem ter percebido que os tempos são outros, uma bomba em qualquer lugar, seja pelo que for, explodirá antes nas redes sociais, identificando seus autores e os objetivos perseguidos. Daí resulta certa dificuldade de os adeptos do autoritarismo lidar com as circunstâncias, agravada pelo açodamento com que o presidente da república se lança à aventura golpista.

As demonstrações de ontem são fruto do mesmo sentimento de 1984, como deixaram claro os autores do manifesto do Movimento Estamos Juntos, publicado nos jornais de maior circulação no último sábado: “Como aconteceu no movimento Diretas Já, é hora de deixar de lado velhas disputas em busca do bem comum”. Esquerda, direita, progressistas e conservadores subscrevem o manifesto, uma resposta à pressa do presidente da república em se declarar dono do poder.

Jornalistas, cientistas políticos, acadêmicos e observadores internos e externos concordam que uma frente ampla contra o autoritarismo está em formação e enfrentará nos fóruns apropriados e nas ruas os raivosos bolsonaristas em sua pregação contra o Judiciário e o Legislativo. As investigações sobre rachadinhas, fake news, interferência na Polícia Federal e disseminação do ódio transcorrem por caminhos institucionais absolutamente regulares, apesar das ameaças, e haverão de chegar à verdade.