Ao esconder dados da pandemia o país assume o rótulo de “república de bananas”

República de bananas na avenida - Reprodução da internet

A maior repercussão e principal consequência da mudança imposta pelo general Eduardo Pazuello no acompanhamento da pandemia no Brasil pelo Ministério da Saúde foi registrada hoje, 6,  fora do país. Mais precisamente, nos Estados Unidos, onde a Universidade Johns Hopkins anunciou a retirada dos dados nacionais do quadro geral da pandemia no mundo, um retrocesso ao tempo da ditadura militar. Na década de 1970, os militares ocultaram uma epidemia de meningite da opinião pública através da censura prévia à imprensa e a sociedade brasileira ficou desinformada de mais de uma morte diária por mais de dois anos pela doença.

Inspirado no exemplo de péssima memória, o general da Saúde aprimorou a estratégia. Como não há condições de fazer a censura prévia da imprensa em tempos de internet, ele promoveu alterações na metodologia de divulgação oficial da pandemia de coronavírus no Brasil filtrando os dados para ocultar o crescimento vertiginoso da doença em consequência de políticas de combate comprovadamente ineficientes e condenadas em todos os países. Aqui, desgraçadamente, misturam-se interesses políticos municipais, estaduais e federais em conluio para levar a população às ruas e romper o isolamento social preconizado pela Organização Mundial de Saúde.

A reabertura repentina do comércio no Rio de Janeiro neste fim de semana por decreto do governador publicado na edição extra do Diário Oficial com data de hoje é percebida como tentativa do governador Wilson Witzel “acertar o passo” com o presidente Jair Bolsonaro, que soltou a Polícia Federal em cima de possíveis irregularidades administrativas no estado. A decisão de Witzel não só se coaduna com a postura do presidente contra o isolamento social, como também abre a guarda contra o vírus e expõe a população do estado aos graves riscos de contaminação exponencial.

A brutalidade da nova postura do Ministério da Saúde pode ser aferida também com declarações oficiais que põem em dúvida a honestidade das informações estatísticas ao sugerir que médicos inflam o número de mortos por Covid19 para os estados receberem mais verbas oficiais. A afirmação foi duramente repudiada pelo Conselho dos Secretários Estaduais de Saúde com o argumento de que uma coisa não tem a ver com a outra, ou seja, a quantidade de vítimas fatais não influi nos recursos federais destinados a cada estado para o combate à pandemia.

Alberto Beltrame, presidente do conselho e Secretário de Saúde do Pará, afirmou que a declaração é inaceitável, pois a certidão de óbito é dada pelo médico e computada pelos serviços de saúde locais: “É prova do desconhecimento do secretário de um processo tecnicamente rigoroso. Ele está acusando médicos de falta ética e gestores de falsidade ideológica”.

Na outra ponta da discussão, a jurídica, a Defensoria Pública da União entrou com ação na Justiça Federal de São Paulo para obrigar o governo a divulgar novamente os dados diários completos da evolução da pandemia sob a alegação de que é dever do poder público “informar correta e adequadamente à população todos os atos adotados no combate à disseminação da doença no Brasil”. E antevendo desfecho desfavorável, a imprensa providencia o acompanhamento da Covid19 independentemente dos dados do Ministério da Saúde.

De todo o episódio, desde já uma conclusão salta aos olhos: o Brasil volta ao descrédito internacional de um país atrasado e ignorante cujo povo é submetido a uma ditadura mascarada por eleições suspeitas de fraudes e imprensa cúmplice de todos os malfeitos dos poderosos de plantão. Uma “republiqueta de bananas”, como diziam em meados do século passado dos países latino-americanos onde os Estados Unidos nomeavam os governantes.