A história do cinema mundial tem início em Paris no ano de 1895, e a primeira película a ser exibida foi (Saída dos Trabalhadores da Fábrica Lumière), dos irmãos Lumière. Desse modo, os irmãos Auguste e Luis Lumière são considerados os pais do cinema mundial em decorrência de terem iniciado a exibição de imagens em movimento.
Cabe salientar que o cinema até então, era mudo, e somente na década de 1930 é que surge o cinema falado.
Já no Brasil, o cinema teve seu início em 1896, numa exibição na cidade do Rio de Janeiro. Em 19 de junho de 1898, os irmãos italianos Paschoal Affonso e Segreto realizaram gravações na Baía de Guanabara. Mesmo não tendo registro que comprovem a materialidade desse evento, tal data passa a ser marco histórico para homenagear o Dia do Cinema Brasileiro.
Inicialmente, essa nova jornada visual enfrentaria ainda um problema crucial: a falta de energia elétrica, sendo tal entrave resolvido somente no ano de 1907, quando no Rio de Janeiro foi implantada a Usina Ribeirão de Lages.
Entre os anos de 1907 e 1910, ocorreu a estruturação do mercado exibidor no País, e a maior parte dos filmes exibidos vinha de outros países, inclusive, da Europa. Nesse intervalo, o Rio de Janeiro alavancou na implantação de salas de exibição, chegando a contar com mais de vinte.
A trajetória de produção cinematográfica no Brasil se destaca no primeiro momento pelo formato documental. A primeira película de ficção aqui produzida foi o curta-metragem “Os Estranguladores”, de 1908, cuja direção é de Francisco Marzullo e Antônio Leal, enquanto o primeiro longa-metragem foi “O Crime dos Banhados”, de 1914, dirigido por Francisco Santos.
Durante o período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o mercado cinematográfico sofreu duras mudanças estruturais. Devido a diminuição das produções europeias, os filmes de Hollywood passaram então a dominar as salas de exibições no Brasil, que isentos de taxas alfandegárias, entravam livremente por aqui.
Essa ocorrência acabou enfraquecendo também a produção cinematográfica local.
O domínio hollywoodiano ocorreu entre 1930 e 1940, devido o investimento em publicidade pelas distribuidoras norte-americanas, que equiparam as salas de cinema e investiram em publicidade, com o intuito de vender seus filmes falados (talkies).
Nesse tempo, foi criado o primeiro estúdio cinematográfico no Brasil: a Cinédia, que a partir de então, passou a produzir filmes no formato hollywoodiano, cujos cenários eram exuberantes, com histórias românticas e/ou musicais, e estrelas como Carmem Miranda.
A Companhia Cinematográfica Vera Cruz, foi fundada em 1949, e passou a funcionar como arena de produção até 1954. O estúdio chegou a produzir 22 filmes, se inspirando sobretudo no formato hollywoodiano, mas se levarmos em conta as parcerias com outros estúdios, o número sobre para 40.
Conforme informações da Academia Internacional de Cinema, saiu dessa produtora o primeiro filme premiado no Festival Internacional de Cannes. “O Cangaceiro (1953)”, de Lima Barreto, levou os prêmios de melhor filme de aventura e melhor trilha sonora.
Na década de 1940, fundou-se a Atlântida Cinematográfica. Esta, veio a despontar com o gênero das chanchadas, cujas características se destacavam na estética de filmes cômicos e musicais, com comédias de linguagem fácil e apelo popular.
Em 1969, durante o período militar, foi criada a Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme), e os financiamentos para produções cinematográficas tinham que ser alinhados aos interesses militares. Devido ao estímulo das exibições, tivemos alguns sucessos de bilheteria, com destaque para Dona Flor e seus dois Maridos (1976), de Bruno Barreto, com um recorde de 10,7 milhões de espectadores.
A crise que se acentuou nos anos 1980, se deu também devido a popularização do videocassete, além da situação econômica do país, impossibilitando que cineastas produzissem, e que frequentadores não pudessem comprar ingressos.
Com a eleição de Fernando Collor, em 1990, a Embrafilme teve suas atividades encerradas, bem como foram extintos também o Ministério da Cultura, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro.
O período de retomada do cinema brasileiro se dá entre os anos de 1992 a 2003, impulsionado pelo governo Itamar Franco, que criou a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, que mais tarde, regulamentou a Lei do Audiovisual. Centenas de filmes foram produzidos nas últimas décadas, e alguns se destacam pela indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, como: O Quatrilho (1995), O que é Isso, Companheiro? (1997) e Central do Brasil (1998).
O filme Tropa de Elite (2007), é um dos marcos do período da pós-retomada do cinema brasileiro. É justamente nesse período que os filmes passam a ter maior consumo. Somente no ano de 2013, mais de 120 longas-metragens chegaram as telas, e muitos desses filmes tiveram público com mais de um milhão de espectadores.
Mas infelizmente temos pouco a comemorar nos dias atuas.
O universo cultural na sua amplitude tem sofrido sérios e covardes ataques, vindos da esfera do poder. Em janeiro de 2019, por ocasião do novo governo, uma de suas primeiras atitudes foi extinguir o Ministério da Cultura, passando a funcionar sob o status de secretaria. O decreto 9.674 de 2 de janeiro daquele ano, traz a fusão da cultura, esporte e desenvolvimento, no agora criado Ministério da Cidadania. Passados alguns meses, a secretaria por ocasião do Decreto 10.107 de 6 de novembro de 2019, passa a fazer parte do Ministério do Turismo.
Além desse trânsito conturbado, a pasta também passou turbulências no seu comando.
Inicialmente, Henrique Pires foi quem a capitaneou, deixando-a em agosto por se posicionar contra o governo, ao questioná-lo sobre a suspensão de edital para TV, o qual trazia uma pauta dedicada a produções que tratavam de abordagens sobre as questões lgbtqia+, e diversidade de gênero.
A partir de então, o economista Ricardo Braga o sucedeu, ficando apenas dois meses no comando, vindo a ser substituído pelo dramaturgo Roberto Alvim, que se envolveu numa polêmica ao referenciar Joseph Goebbels ministro nazista na Alemanha.
Dois meses depois, Alvim foi trocado pela atriz Regina Duarte, que teve sua rápida passagem marcada pelo descaso com a classe artística, e declarações bizarras sobre o período ditatorial no Brasil.
A Agência Nacional de Cinema – Ancine, também passou por mudanças. O atual presidente alterou pelo decreto 9.919 de 18 de julho de 2019, a composição do Conselho Superior de Cinema, que agora tem um maior número de integrantes do governo na composição do que pessoas ligadas ao setor do audiovisual.
O fato é que o universo cinematográfico brasileiro vem sofrendo duros ataques desde 2019, onde uma onda de ameaças tem sinalizado para uma regulação desse setor, por segmentos ideológicos, de cunho conservador e totalitário, apontando para a possibilidade de filtros na avaliação de filmes pela Ancine, e pior, esta agência já sofreu até mesmo ameaça de extinção.
É um cenário de medo e insegurança para cineastas e toda a classe artística, que vê a todo momento, sinais de uma potencialização conservadora e centralizadora avançar. A cultura de modo geral tem sido criticada e deixada de lado, sendo tratada como âmbito de subversão e desobediência aos propósitos políticos atuais.
A história do cinema brasileiro tem sido como vimos aqui, marcada por nuances temporais, que dizem muito sobre questões políticas, e econômicas de cada época. E agora não é diferente. Nada parece estar consolidado, os retrocessos ameaçam a todo instante diante do cenário cultural como um todo.
Nesse dia, mais do que comemorar, é momento também de avaliarmos nossas potências, sedimentando nossas posturas de luta na união da classe pela classe artística.
É momento de resistir!