Quando surgiu no Brasil, a bordo de um voo da Itália para São Paulo, a pandemia do novo coronavírus se apresentou como o mal de gente fina, classe média com dinheiro para curtir a Europa. Era um tempo em que o vírus saído de Wuhan, na China, começava a se espalhar no continente vizinho, e não tinha nada a ver o brasileiro médio ou pobre.
Logo, entretanto, ele se espalhou e continua se disseminando largamente, primeiro entre as classes médias do asfalto e, logo, subiu o morro, entrou nas periferias das grandes cidades, das médias e das pequenas. Agora a pandemia se interioriza ameaçadora, com a cumplicidade do governo federal omisso e mistificador que recusa as medidas drásticas de proteção à população em nome de uma retomada da economia que jamais virá, segundo os próprios economistas.
Até o início da segunda quinzena de abril, 65% dos casos eram em capitais, e apenas 35% em cidades do interior. Pouco mais de um mês depois, no fim de maio, esse percentual se equiparou, e o avanço segue desde então. Atualmente, 19 estados já têm maior proporção de casos no interior do que nas capitais. No total de mortes, 48% dos registros estão no interior e 52% nas principais cidades de cada estado.
Os números são do mais recente boletim epidemiológico semanal do Ministério da Saúde, o qual voltou a ser publicado na quinta-feira, 18, após duas semanas sem ser divulgado.
No balanço, além da evolução da interiorização, o ministério faz detalha a distribuição dos casos conforme o porte populacional dos municípios. Até o fim da primeira quinzena de junho, quando os dados foram contabilizados, 4.590 cidades — o equivalente a oito em cada dez municípios do país — já tinham ao menos um caso registrado da Covid-19. Dos 980 municípios sem registro de caso, 969 eram cidades com até 25 mil habitantes.
Das cidades entre 25 mil e 49 mil habitantes, só dez não tinham registros até o fim da última semana. Eram Ipixuna (AM), Iraquara (BA), Santana (BA), Capelinha (MG), Itamarandiba (MG), Jaíba (MG), São João da Ponte (MG), Astorga (PR), Jaguarão (RS) e Três Coroas (RS).
Acima de 50 mil, só uma: Prudentópolis (PR). A situação, porém, mudou nos primeiros dias da última semana. Na segunda-feira (15), a prefeitura divulgou o primeiro caso confirmado. Quatro dias depois, o total já chegava a seis confirmações. Também havia ao menos 23 à espera de resultado de exames.
Para o Ministério da Saúde, ao mesmo tempo em que os casos crescem no interior, o país dá sinais de estabilização geral de casos — u seja, quando o aumento ocorre em ritmo mais lento ou semelhante a semanas anteriores. Mas é preciso confirmar essa análise nas próximas semanas, segundo o ministério, concluindo:
“Faz-se necessário acompanhar durante a semana se a tendência de estabilização no número de casos se mantém, ou se é um reflexo de uma possível redução no número de testes causados pelo feriado prolongado em algumas cidades brasileiras”.