Favela e periferia somam 17% dos casos de Covid na cidade do Rio de Janeiro

Foto Pedro Linger/ANF

Levantamento da prefeitura e do Ibope no Rio de Janeiro aponta que 17% dos moradores de seis áreas muito populosas e em situação de vulnerabilidade na capital fluminense foram infectados pelo novo coronavírus até o início de junho. No total, 556 de 3.210 pessoas submetidas a testes rápidos tiveram resultado positivo, bem acima das marcas a nível nacional, segundo o estudo mais abrangente que está sendo feito no Brasil, o Epicovid-19.

A segunda e mais recente fase desse levantamento indicou que 2,8% da população de 120 cidades brasileiras pesquisadas já haviam tido contato com o coronavírus até o dia 7 de junho. Na cidade do Rio, o número era de 7,5% de infectados. Os novos dados divulgados na última segunda-feira, 22, mostram que o complexo da Cidade de Deus teve 28% dos moradores com resultado positivo no teste. Em seguida, vêm Rio das Pedras (25%), Rocinha (23%) e Maré (19%). Depois, os bairros da zona oeste de Realengo (9%) e Campo Grande (5%), locais conhecidos por serem dominados por milícias. As seis regiões abrigam 14% da população do município.

A porcentagem do total de infectados que acaba por morrer é de 1,8% em Campo Grande e 1,2% em Realengo, enquanto não passa de 0,4% nas outras favelas — a Epicovid-19 apontou uma média de 1% em parte do país.

Para a prefeitura, essas taxas mostraram que a letalidade não é tão alta quanto se tem divulgado. “Temos ouvido às vezes a mídia falar sobre níveis de letalidade altos no Rio, só que muitas vezes levaram em consideração o número de testes positivos naquela comunidade”, disse Flávio Graça, superintendente da Vigilância Sanitária municipal.

“Por exemplo, eram 250 infectados e 50 vieram a óbito. Isso dava 20% de letalidade, e esse trabalho vem mostrar uma realidade diferente que tem que ser falada”, afirmou ele à imprensa durante a divulgação dos números.

Os novos dados, porém, também dimensionam a subnotificação na capital fluminense, já que em geral são contados apenas os casos sintomáticos e com complicações, dada a escassez de testes e outros problemas do sistema de saúde. Com base no estudo, a prefeitura projeta haver 30 vezes mais contaminados do que o registrado oficialmente nessas seis áreas. Foram estimados quase 121 mil infectados, sendo que nos números oficiais há apenas 4.040 casos confirmados até o dia 22.

O caso da Cidade de Deus chama atenção: enquanto a projeção indica que 9.869 pessoas já devem ter pegado o vírus na favela, o painel de casos da prefeitura aponta só 184, uma quantidade 54 vezes menor. Cenário semelhante se verifica em muitos pontos da cidade, no asfalto ou no morro, em consequência da falta de atendimento médico preventivo e de pouco rigor da autoridade em fazer valer as regras  de isolamento social.

No estudo só foram incluídos moradores com mais de 18 anos, e uma pessoa por domicílio. Os dados foram coletados na primeira semana deste mês por equipes da vigilância de saúde e sanitária, vinculadas à Secretaria de Saúde do município. Esta foi a primeira parte do estudo, que contará com mais quatro etapas iguais, nos mesmos locais, para acompanhar a velocidade de expansão do número de contaminados. A segunda fase começará em 1º de julho.