A população pesqueira de Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife, está sob ameaça de ser removida do estuário do Rio Jaboatão, pela empreiteira Etasa- Empreendimentos Turísticos S/A, que desde 2011 está envolvida em conflitos com os pescadores e pescadoras da região. A área consta como propriedade da Marinha, portanto a Associação de Pescadores de Barra de Jangada tem a posse da associação, mas a propriedade pertence ao governo federal.
A Associação de Pescadores (APBJ), prestes a completar 17 anos, apresentou documentos que comprovam que desde o ano de 2006 paga o IPTU, somando hoje mais de R$ 38 mil. A empreiteira, que consta como sociedade anônima, possui terrenos próximos à área onde está a APBJ. “As famílias estão aqui há mais de 100 anos, não o prédio, pois este foi um canteiro de obras irregular em 1994, mas os pescadores já estavam aqui antes”, afirma Lot Bernardino, presidente da Associação.
Barra de Jangada é formada por ilhas, alagados e manguezais, abargada (várzea alagadiça tipica de mangue), pelos Rios Jaboatão e Pirapama, Lagoa do Náutico e Canal Olho D’água (que recebe os canais de Setúbal e Rio Jordão). Tem população que vive da pesca artesanal e da coleta de crustáceos, em coexistência e harmonia com o meio ambiente para retirarem o alimento e o sustento mantendo a preservação do local.
A atividade de pesca sempre foi realizada por povos ancestrais, e os remanescentes dessa cultura sofrem cada vez mais com a especulação imobiliária. Lot Bernardino lembra que “tem pessoas aqui com 60 anos que já herdaram o ofício dos pais, dos avós”.
Os pescadores e pescadoras defendem a proteção do território e das populações pesqueiras através do projeto de criar o Parque Natural Municipal Restinga das Mangabeiras. Seria o primeiro parque ecológico do município e além de promover a preservação ambiental e dos ecossistemas que lá existem, manteria também a atividade e manutenção das populações tradicionais que vivem da pesca. As espécies que movimentam a atividade na região são camarão, lagosta, tainha, marisco, carapeba, unha de velho, sururu, caranguejo e peixes de água doce e áreas de mangue. A vegetação nativa da região proporciona o extrativismo de mangaba, caju, oiti, dendê, macaíba, aroeira e manga.
No último dia 6 de junho os pescadores foram surpreendidos por dois contêineres que deixados no caminho utilizado pelos moradores, causando apreensão à população pesqueira com o que poderia estar por vir. Foi feita denúncia de que havia seguranças particulares armados no local, a fim de impedir a passagem dos pescadores. A Polícia Militar foi chamada e confirmou que tratava-se de contratados da Etasa- Empreendimentos Turísticos S/A.
O interesse da empreiteira Etasa no local é de construir um parque aquático, utilizando a área em que está localizada a Associação de Pescadores. Inquérito civil no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) de 2010 aponta que a empresa se comprometeu a doar uma área de 5 mil metros quadrados à APBJ, com projeto de construção de uma nova sede e que até o término da construção da nova sede, a atual seria mantida onde está atualmente.
Em meio à pandemia do coronavírus, Lot Bernardino destaca que está havendo muita dificuldade para os pescadores terem acesso ao Auxílio Emergencial. São mais de 900 famílias que retiram o sustento da pesca na região. “Tenho 5 pescadores aqui, que só pelo fato de serem moradores de rua, mas são pescadores, dois deles negros, são discriminados, pra tirar identidade eu fui 5 vezes no Instituto de Identificação Tavares Buril”, afirma Lot.
Para mais informações, acesse: Salve Barra de Jangada e Associação de Pescadores de Barra de Jangada.
Assista aqui ao vídeo de Lot Bernadino pedindo apoio nas redes sociais.