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O que a maioria sabe, mas não tem como comprovar acaba de ser registrado em bases estatísticas: o racismo estrutural da sociedade brasileira penaliza com mais severidade a parcela negra da população durante a pandemia do novo coronavírus. Atingidos em cheio, negros que sobrevivem com negócio próprio formal ou na informalidade são as vítimas prioritárias deste período.

Pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas entre os dias 29 de maio e 2 de junho com 7.403 entrevistados revelou que a epidemia tem sido mais prejudicial aos negócios comandados por negros, que se encontram em situação de maior precariedade. Um dos fatores é que maior percentual deles atendia apenas presencialmente e em locais com restrição de circulação.

Outro fator é a “dificuldade de acesso a financiamento, que atingiu com mais força os empreendedores negros que, além de mais endividados, tiveram mais recusa dos bancos”, disse o presidente do Sebrae, Carlos Melles. Segundo a pesquisa, 61% dos negros tiveram acesso ao crédito negados, contra 55% dos brancos, apesar de o valor solicitado por eles ser 26% menor — em média, de R$ 28 mil.

A pesquisa mostrou que 46% dos negócios liderados por negros tiveram que interromper temporariamente o funcionamento, contra 41% dos brancos. Das pequenas empresas que conseguiram funcionar, 40% lideradas por brancos usaram para isso ferramentas digitais, contra 32% das tocadas por negros.

Os pequenos negócios mantidos por negros usaram menos as redes sociais: 45% conseguiram lançar mão delas, contra 48% de empreendedores brancos. Dos que vendem pela internet, a maior parte dos que usam WhatsApp é negra (88%). Entre os brancos, é mais comum sites próprios ou o Facebook.

(Com informações da colunista Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo)