Professora, escritora e intelectual reconhecida, Elika Takimoto aponta detalhes nada pequenos da história de vida do novo ministro da Educação, o pastor e também professor Milton Ribeiro, terceiro líder religioso do primeiro escalão do governo. Sua premissa básica é a inexistência de um projeto de educação no governo: “A escola de Bolsonaro nunca foi pautada pelo conhecimento, mas pelo agrado a grupos que o apoiam”. A sustentação do presidente vem dos setores conservadores avessos ao pensamento e ao diálogo, ignorantes e violentos, por escassez de argumentos para discutir.
“A verdadeira autoridade não é violenta. E, se tivermos que usar a violência para sermos ouvidos, falhamos como educadores, pastor. Toma essa verdade”, escreveu a professora em artigo na RBA, visivelmente preocupada com as informações nas redes sociais, sobretudo em vídeos, onde o novo ministro expõe pontos de vista preocupantes para todos os educadores e que inspiraram o pastor Silas Malafaia, infalível nesses momentos críticos, a exigir que Ribeiro demita todos os petistas do ministério como obra primeira e talvez única de sua missão no governo.
Como Milton Ribeiro se opõe e agride o pensamento brasileiro, a exemplo de seus colegas? A resposta é simples: ao defender conceitos, posturas e atitudes anacrônicas e/ou claramente obtusas, com base na mesma leitura tendenciosa do Velho Testamento que faz todo o rebanho que segue o presidente rumo limbo da história do Brasil e do mundo (sim, fora das suas fronteiras, o país é enxergado atualmente como pária, isolado, apoiado por dois ou três também contrários à evolução natural ou científica da humanidade).
Não é somente a negação da ciência no combate ao novo coronavírus e a rejeição de consensos seculares, empurrando a população à doença e à morte sem isolamento social, autoadministrando hidroxicloroquina e cloroquina como panaceia na pandemia, acreditando que o vírus é um plano chinês para dominar a economia planetária e que a Terra não é redonda nem, quiçá, gire em torno do Sol. Que tudo não passa de maquinação maquiavélica do marxismo para derrubar o capitalismo que já vem desmoronando há décadas pelas próprias ambições e obtusidades.
Elika Takimoto se deu o trabalho de listar apenas algumas “pérolas” do pensamento do novo responsável pela educação formal brasileira, que transcrevo a seguir para leitura, reflexão e se possível discussão com colegas, amigos e familiares. O que disse Milton Ribeiro?
1. Justificou o feminicídio: Ele afirmou que um homem de 33 anos que matou uma adolescente de 17 “confundiu paixão com amor”. Ao tentar justificar o feminicídio, o pastor ministro disse: “Acho que esse homem foi acometido de uma loucura mesmo e confundiu paixão com amor. São coisas totalmente diferentes. Ele, naturalmente movido por paixão; paixão é louca mesmo, ele então entrou, cometeu esse ato louco, marcando a vida dele, marcando a vida de toda família. Triste”.
2. Disse que “Quando o pai é ausente dentro da casa, o inimigo ataca. Quando não impõe (essa é a palavra) a direção que a família vai tomar (…) O homem dentro de uma casa aponta o caminho em que a família vai”.
3. “Não dá para argumentar de igual para igual com criança, senão ela deixa de ser criança. Deve haver rigor, SEVERIDADE. Vou dar um passo a mais, talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim: deve sentir DOR” (o “ensinamento” está em trecho de uma pregação que pode ser encontrada no canal de vídeos do próprio ministro da educação).
Em vista destas posições, ainda há quem acredite que alguma coisa boa pode vir do governo de Jair Bolsonaro, seus astrólogos, generais e pastores? O cenário é tão apocalíptico que no nível ideológico urde-se a chapa Abraham Weintraub/Ernesto Araújo para a eleição de 2022. Não acredita? Espere e verá.