Previsões acadêmicas sobre a pandemia são alarmantes para a América Latina

Surto de Covid-19 nas Américas pode permanecer com picos pelos próximos dois anos - Foto: Alex Pazuello /Semcom
Surto de Covid-19 nas Américas pode permanecer com picos pelos próximos dois anos - Foto: Alex Pazuello /Semcom

Enquanto países europeus mostram controle ao menos temporário sobre a pandemia, na América Latina estudo do Observatório Fluminense Covid-19 aponta aumento do número de casos e mortes, ou uma estabilização em patamares muito elevados na região. Dos 15 países  analisados pelo projeto os indicadores revelam que apenas Cuba e Uruguai estão no verde, ou seja, estão “vencendo” a epidemia quanto ao número de casos registrados por semana. Na métrica por número de mortes por semana, o Paraguai também entra no verde. Não entram no monitoramento El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras e Nicarágua.

Estão na cor amarela, que indica “quase lá” no enfrentamento à pandemia, Chile, Equador e Paraguai para novos casos por semana e apenas o Equador para o número de mortes. Todos os outros estão no vermelho para as duas medidas, ou seja, “precisam agir” para controlar a disseminação do novo coronavírus.

O Observatório Fluminense Covid-19 é formado por cientistas e estudantes de sete instituições de ensino e pesquisa, entre elas a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Fluminense (UFF). O professor Americo Cunha, do Instituto de Matemática e Estatística da Uerj e integrante da equipe de monitoramento, destaca que o gráfico indica uma tendência da pandemia e a cor muda de acordo com o desenho formado pela curva epidemiológica.

“A gente classifica a situação em vermelho, amarelo ou verde de acordo com a forma do gráfico. Quando a epidemia passa, a curva segue um esquema: ela sobe, passa por um platô e depois desce. Não é igual para todos os países, pode ser mais inclinado para esquerda ou para direita, a subida mais lenta ou mais rápida. Se você olhar a curva de Cuba, por exemplo, ela já tem esse formato fechado. Equador está em amarelo porque subiu, desceu, subiu e está estacionado num patamar ainda relativamente alto”.

O número de casos por milhão de habitantes varia muito na região, indo de 212 em Cuba e na faixa de 280 no Uruguai e na Venezuela, até 15.800 no Chile. Panamá e Peru estão na faixa de 9.500 por milhão e o Brasil em 8 mil por milhão.

Em número de mortes, Venezuela e Paraguai registram três óbitos por milhão, a Costa Rica tem cinco e Cuba e Uruguai estão com oito mortes por milhão de habitantes. Na ponta oposta, estão acima de 300 mortes por milhão o Chile, o Peru e o Brasil. Os dados foram consolidados na quarta-feira, 8.

Americo Cunha explica que a América Latina tem países de tamanhos muito diferentes, o que limita a análise abrangente do ponto de vista epidemiológico. Segundo ele, a métrica global de cada país deve ser levada em conta como uma média das epidemias internas.

“Cada país tem mais de uma única epidemia em curso. O Brasil mesmo tem centenas de epidemias, cada uma com seu curso próprio, algumas que já estão esgotando e outras ainda acelerando. É o que acontece nos demais países na América Latina. Mas nos muito pequenos na América Central e no Uruguai, o número global do país é um bom termômetro da situação local”.

Já o último boletim do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cris-Fiocruz) sobre o Panorama da Resposta Global à Covid-19, divulgado na terça-feira, 7, destaca que as Américas são o atual epicentro da pandemia e concentram mais de metade dos mortos e dos casos no mundo, liderados, de longe, por Estados Unidos e Brasil, únicos países na casa do milhão de infectados. A análise aponta que o surto nas Américas pode permanecer com picos pelos próximos dois anos.

“Na ausência de tratamentos eficazes ou de uma vacina amplamente disponível, espera-se que a região das Américas experimente surtos recorrentes da Covid-19 nos próximos dois anos, que podem ser intercalados por períodos de transmissão limitada. Nesse sentido, todos têm que se adaptar ao novo modo de vida e redefinir nosso senso de normalidade”, conclui o estudo da fundação.

O Observatório Fluminense Covid-19 alerta em seu estudo agora divulgado que o planeta passa de 12 milhões de casos confirmados de Covid-19 e de 556 mil óbitos, com Estados Unidos passando de 3 milhões de casos e de 133 mil mortes. O Brasil tem 1,8 milhão de casos e mais de 70 mil mortes.

Sobre América Latina, adverte que a disseminação da doença continua intensa na América Central, com uma situação um pouco melhor nas ilhas do Caribe e destaca que as medidas precoces adotadas no início da pandemia no continente ajudaram a evitar uma tragédia maior, embora no momento a pressão pela reabertura esteja grande.

“Manter essas medidas não tem sido fácil, principalmente devido ao impacto econômico e social. Os governos estão agora sob pressão para diminuir as restrições por razões econômicas e políticas, mesmo com o aumento da transmissão. Nesse sentido, a situação na Colômbia é impressionante”, informa o documento.

Os dados do Observatório Fluminense Covid-19 indicam que a Colômbia está com uma curva crescente no número de casos e mortes. No México, terceiro país com mais mortes no continente americano, o relatório do Cris-Fiocruz destaca a taxa de mortalidade por Covid-19 entre crianças está três vezes maior do que nos Estados Unidos, mas mesmo assim a capital, Cidade do México, planeja a reabertura. No Peru, o bloqueio nacional foi suspenso e a quarentena passa a ser nas regiões mais afetadas enquanto o Uruguai reabriu as escolas.