Na última quarta-feira, 15, foi registrado o segundo episódio de vandalismo com cunho religioso contra as religiões de matriz africana, atingindo diretamente o busto de Mãe Gilda, no Parque do Abaeté, em Itapuã, Salvador, que foi apedrejado e teve várias partes danificadas. Em 2016, o busto foi alvo de vandalismo, depredado e foi necessária uma restauração que durou seis meses. Desta vez, um agressor foi preso graças a denúncia que chegou até Jaciara, filha de Mãe Gilda, que acionou a polícia. O acusado disse que agiu “a mando de Deus”.
“A gente não pode silenciar. No momento de pandemia, no momento em que o país passa por dificuldade. Mais uma vez o monumento é depredado. Quebrou tudo aqui. Disse que foi a mando de Deus. Que Deus é esse?”, pergunta Mãe Jaciara.
Mãe Gilda morreu em janeiro de 2000, sete anos antes da criação do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, 21 de janeiro, em sua memória. Pessoas de diferentes credos, raças, etnias e sexo celebram neste dia a luta contra a intolerância religiosa. A ialorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda, se tornou símbolo de resistência pela afirmação das religiões de matriz africana, após ter o terreiro (Ilê Axé Abassá de Ogum), que fundou em 1988, invadido e depredado por representantes de outra religião. O Terreiro de Candomblé fica localizado próximo do local onde está o busto.
Vários movimentos sociais se manifestaram em apoio, o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, declarou “infelizmente, em pleno século XXI, voltamos a ser surpreendidos com atitudes que remontam à Idade Média. A vandalização do busto de Mãe Gilda é mais um ato nessa escalada de intolerância religiosa que a gente tem vivido e que atinge não só os que acreditam nessa religião, mas todo cidadão que quer ter liberdade de acreditar no que quiser. E não só isso, é também um ataque contra o patrimônio cultural de Salvador. Um busto faz parte do patrimônio, ele conta a história da cidade, homenageia pessoas da cidade e é uma obra de um artista. Temos um duplo crime”. O Conselho Ecumênico Baiano, emitiu uma nota de repúdio contra o ato de intolerância religiosa. Confira a íntegra da nota. Nota Pública de repúdio Mãe Gilda