O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha não é apenas um dia para celebrar, é um dia de luta, de organização e de mudanças. A data reconhecida pela Organização das Nações Unidas – ONU, nasceu do primeiro encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas que aconteceu na República Dominicana, no dia 25 de julho de 1992. Até hoje milhões de vozes negras se unem para reagir às opressões e lutar contra os terríveis índices que lideram, como os de feminicídio, homicídio, abuso sexual e violência obstétrica. Esse marco do movimento antirracista e sexista organizado por e para mulheres negras, gesta e pare uma consciência social que reflete seu próprio espaço e identidade.
Em Salvador, para comemorar essa data acontece o Julho das Pretas, uma importante agenda de debates, encontros e atividades culturais que refletem a realidade local, mas que esse ano por conta da pandemia do coronavírus, seguirá em formato virtual. Confira a programação dedicada ao 25 de Julho.
O sábado começa com um bate papo virtual “As vozes das pretas importam? Refletindo a minha nobreza africana.” A live acontece na plataforma do Google Meet, às 10h, com inscrições limitadas através do número (71) 99281-1778. As convidadas são Márcia Nascimento, articuladora do Instituo Odara, Danubia Santos, executiva social da CUFA – Central Única das Favelas e Naira Gomes, da Marcha do Empoderamento Crespo.
Após essa conversa potente, o almoço será acompanhado por uma rica roda de samba com a convidada e homenageada da live Festival Latinidades , a Dona Dalva. Será na plataforma do Youtube e do Instagram da Afrolatinas, às 13h. O samba de roda de Dona Dalva, também conhecido como Samba de Roda de Suerdieck, foi fundado em 1958 e tem um vasto repertório de samba e de musicas tradicionais de terreiro. Dona Dalva que está prestes a completar 93 anos, nos brinda com sua alegria e importante luta na preservação da memória do samba de roda.
Já o Fórum Marielles promove a live “Mulheres Negras – Mandatas Coletivas e Organização Partidária: É possível construir um projeto coletivo autônomo? Que acontece na plataforma do Facebook e Youtube do Fórum Marielles, às 16h. O bate-papo contará com a presença de Aúrea Carolina (deputada federal do Psol) e das pré-candidatas a vereadoras Janda Mauwsi, Lindinalva de Paula, Márcia Ministra e Naira Gomes. A mediação fica por conta de Cris Barros, conduzindo um importante debate sobre mulheres negras na política, representações e medidas eficazes no combate à violência e ao racismo.
Pra fechar a noite terá a Live Solidária Egbé Axé – Associação de Terreiros, que comemora a 8ª edição do Prêmio “Mulheres Negras contam a sua história”, às 19h na plataforma do Youtube, no canal Egbé Axé. Haverá uma roda de conversa mediada por Mãe Diana de Oxum, presidente do Egbé Axé, com as homenageadas dos prêmios anteriores, Ligia Margarida (2015), Jany Salles (2016), Andreia Macedo (2017) e Capitã Thais Trindade (2019). O som fica por conta da banda Kangerê de Sinhá.
Com o intuito de ampliar e fortalecer as organizações de mulheres negras para o enfrentamento do racismo e sexismo, a live espera arrecadar itens de alimento não perecíveis e kits de limpeza, para formar cestas básicas que serão distribuídas a mulheres de povos tradicionais. (Quilombolas, marisqueiras, artesãs e mulheres de terreiros).
Memória. É reconhecer que os passos que nos antecedem foram e são fundamentais para quem somos hoje. É pedir a benção a quem veio antes, reverenciando sua luta e alimentando sempre a sua força através da nossa. A mulher negra em diáspora nunca rompe seu elo ancestral, e por isso mesma ela trava uma luta colonial que tenta negar a sua vida. Lélia Gonzales, intelectual negra e brasileira, já nos alertava: “A gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha, etc. Mas torna-se negra é uma conquista.”
E as estruturas políticas e sociais, normativamente masculina e branca, sabem que nos enfraquecem quando nos dividem. Quando nos fazem duvidar de quem somos. Quando nos fazem esquecer de onde viemos. Nossa visibilidade e o reconhecimento das nossas potências maliciosamente são transformadas em rivalidade e distanciamento, só que as vidas ceifadas no Brasil viram números que nos unem, e pior, nos tornam líderes de estatísticas de feminicídio, homicídio, estupro e pobreza.
Que a gente se aproxime cada vez mais de nossas referências, nossas mães, nossas avós, nossas irmãs. Da nossa espiritualidade e das companheiras que são colocadas em nossos caminhos. Nos aproximemos também das nossas referências teóricas, pra que nos ajudem a refletir e projetar estratégias de valorização do outro, bem como focar a nossa energia em caminhos que transformem a nossa realidade. Que a gente não se contamine com exposições e cancelamentos virtuais que perpetuam a lógica do antagonismo e da hierarquização. Descendemos de Deusas plurais, de rainhas combatentes, a nossa cosmologia é circular e feminina e as nossas existências não cabem em dicotomias que se opõem, as nossas diferenças se somam.
Se programe para celebrar o dia da mulher negra latino-americana e caribenha com muita inspiração e reflexão. Coloca o alarme no celular pra não perder nada.