Ontem, 23, fui fazer minha caminhada diária na região do Porto Novo, na Gamboa que, inclusive muito me ajuda a aliviar o estresse desse mundo caótico. O exercício físico, como sabemos, faz bem para o corpo e a mente, libera a endorfina, hormônio produzido pela hipófise, responsável pelos sentimentos de alegria e do relaxamento.
Porém, policiais federais impediram que pudesse me sentir segura ao caminhar pela rua. Segundo esses policiais, sofreram uma tentativa de assalto e por isso reagiram disparando em torno de 20 tiros no suspeito. Como não sabia o que estava ocorrendo, corri para me proteger dos disparos, pois estava a cerca de 50 metros, mas ao diminuir fui caminhando em direção a minha casa.
Ao passar perto do local, ouvi comentários que foi uma tentativa de assalto. Pela quantidade de tiros imaginei que a pessoa estaria morta. Ao olhar, mesmo de longe, vi um corpo negro estirado no chão, chorei, pois mais uma vida foi retirada, mais uma mãe vai amargurar em vida a dor da perda de um filho.
O mais triste foi ouvir e ver pessoas comemorando a morte de um jovem negro, diziam assim: “menos um bandido nas ruas”. Perguntei a um deles: “Por que o Cabral não foi assassinado? Qual corpo é matável? Por que uns bandidos bons são mortos e outros não?” E a pessoa me responde: “Que bom, porque ele poderia ter assaltado a senhora!”.
Percebam: o papel da polícia é proteger. Quem dá quase 20 tiros não quer imobilizar, quer matar, quem age assim não age para proteger; age com ódio, quer exterminar. Saí chocada, triste e chorando muito, porque a desumanização dos corpos negros chegou no limite de que é bom matar-nos. Triste, muito triste isso.
Na matéria de hoje de um jornal de grande circulação no Rio de Janeiro uma passagem é: “o policial atirou no suspeito”. Sequer tem a coragem de escrever que o policial assassino descarregou uma pistola automática no garoto negro. Que novos tempos façamos emergir, não é normal viver assim. Vidas negras importam.