“Quando o gato sai, os ratos fazem a festa”. Não sei bem, ao certo, se o ditado é assim, mas o sentido é esse. A região de Catolé do Rocha, no sertão paraibano, viveu há um mês a personificação do dito popular: bandidos tomavam conta do pedaço e em um único fim de semana protagonizaram uma verdadeira chacina na zona rural, levando terror à população da cidade e do campo.
Os ratos tomavam conta, pois, armados e bem equipados, se sobressaíam às forças policiais locais naquele momento. Medidas acertadas de contenção da barbárie foram adotadas pela Secretaria de Segurança e Defesa Social da Paraíba, que criou uma força-tarefa e enviou equipes do GOE (Grupo de Operações Especiais) da Capital, João Pessoa, para se juntar aos policiais já em atividade na 3ª SRPC (Superintendência Regional de Polícia Civil) com sede em Catolé.
O resultado, anunciado esta semana pelo secretário de Segurança Pública, Jean Nunes, revela a importância da presença do Estado na sociedade. Os números mostram que Catolé do Rocha está há 30 dias sem registrar um único crime de homicídio. A presença dos policiais nas ruas, tal qual veneno colocado em pontos estratégicos de uma casa, afugentaram a ratazana que fazia a festa no imóvel.
A Constituição Federal de 1988 no seu artigo 144 diz que “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: Polícia Federal; Polícia Rodoviária Federal; Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis; Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
A Polícia foi a instituição escolhida pela assembleia constituinte como competente para atuar na preservação da ordem pública, representando o Estado. “Deste modo, de acordo a classificação de Max Weber, é considerada legítima a atuação da Polícia no combate ao tráfico de drogas para controlar a violência urbana, visto que a mesma desempenha seu papel baseada em ordens estabelecidas racionalmente, através da lei, e, que quem as exerce possui competência constituída para tanto”, aponta estudo realizado por Ítalo Silva Dantas e publicado no site Conteúdo Jurídico. (http://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/50572/o-papel-exercido-pelo-estado-no-controle-do-trafico-e-da-violencia-urbana)
O caso de Catolé do Rocha é nada mais, nada menos, do que o exercício do Poder pelo Estado. É a demonstração de que se o Poder Público se faz presente a possibilidade do caos e da desordem social são reduzidos drasticamente.
Catolé do Rocha já foi cantada pelo paraibano Chico César, que é natural da cidade, como uma terra violenta, onde o artista grita com propriedade: “Catolé do Rocha, praça de guerra… Catolé do Rocha, onde o homem bode berra…” e continua “Bari bari bari, tem uma bala no meu corpo. Bari bari bari, e não é bala de côco (Béradêro – Chico César, CD Aos Vivos, 1995).
Não por acaso, o imaginário popular atrela o sertão paraibano à condição de terra sem lei, onde o poder financeiro sempre colocou os donos das terras e seus filhos mal criados no topo, em um pedestal difícil de ser desfeito. Armados até os dentes, eles se davam ao direito de acabar festas à bala, jogar seus carros envenenados por cima dos mais pobres e terem a certeza da impunidade. Talvez tenha sido esse o cenário vivenciado por Chico César e transformado em arte, quando decreta que os bodes que gritam e berram em Catolé.
A guerra de hoje passa por algo mais alarmante e não se limita aos ‘riquinhos’ da vez. Foi disseminada por toda a sociedade, independente de classe social: o tráfico de drogas. Ao que tudo indica, as mortes em série ocorridas no mês de junho em Catolé do Rocha estão relacionadas ao domínio do tráfico na região. Bandidos de grupos rivais, alguns vindos até do Rio Grande do Norte, se vingam e se matam num bangue-bangue sertanejo que faz pena descrever.
A droga encontrou caminhos abertos nas veias do sertão e fez do polígono das secas o polígono do tráfico. As inevitáveis disputas pelo poder paralelo levaram ao cenário de guerra que estávamos nos acostumando a ver.
Por isso, a grande importância da decisão governamental, com suas estratégias, que chegou no momento certo para conter a sangria. A Força-Tarefa de Catolé do Rocha é exemplo de como o Estado pode se fazer presente e como a chegada do gato afugenta os ratos.
Presença, aliás, que deveria ser uma constante, do Litoral ao Sertão, independente de chacinas ou desordens. E aí vai uma sugestão: o Governo precisa investir mais em Segurança e contratar – via concurso público – mais policiais civis e militares na Paraíba. Isso se quisermos evitar novos catolés! Só assim seremos capazes de ocupar esse espaço cênico!
Como dizem os moderninhos de plantão: “Fica a dica!”.
Vamos tomar um café?