CNI mostra que o país só está à frente da Argentina em competitividade

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Estudo divulgado nesta quarta-feira, 29, pela Confederação Nacional da Indústria mostra que o Brasil só é mais competitivo que a Argentina, num ranking de 18 países com economias similares. Este é o sétimo estudo da CNI desde 2010, e o país sempre esteve na penúltima colocação, apesar das mudanças metodológicas ocorridas ao longo do tempo.

O estudo Competitividade Brasil 2019-2020 mostra que o país perde para economias como as do Peru, vizinho sul-americano que possui um  PIB equivalente a 12% do brasileiro, e a Índia, que possui menos da metade do PIB per capita brasileiro. Os países mais competitivos do ranking são a Coréia do Sul, o Canadá e a Áustria.

No estudo, a CNI leva considera nove fatores, entre eles o trabalho (disponibilidade e custo da mão de obra), o financiamento (disponibilidade de capital e desempenho do sistema financeiro) e a tributação (peso e qualidade).

De acordo com a confederação, o Brasil melhorou em algumas áreas ao longo do tempo – como na redução da burocracia no último ano – mas não conseguiu subir no ranking porque os demais países também avançaram. Em outras palavras, o Brasil está mais rápido, mas perde a corrida para os outros.

“Isso ocorre porque os outros países também avançam, realizando esforços contínuos para ampliar suas respectivas vantagens competitivas”, afirmou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade na apresentação do estudo. “Além do mais, o Brasil ainda tem uma distância significativa dos que estão à sua frente, como China (4º lugar no ranking) e Chile (8º).”

Em rankings anteriores, o Brasil também só era mais competitivo que a Argentina – país que há décadas enfrenta problemas nas áreas externa e fiscal. Mas no estudo divulgado nesta quarta, o Brasil chega a ter desempenho pior que o da Argentina no fator financiamento, ocupando a 18ª posição no ranking. “A situação mais crítica do país é no fator Financiamento, o que reflete sobretudo os custos elevados”, registrou a CNI.

“O Brasil apresenta a mais alta taxa de juros real de curto prazo (8,8%) e o maior spread da taxa de juros (32,2%). A segunda maior taxa de juros é 68% inferior à taxa brasileira (Rússia: 5,2%) e o segundo maior spread é quase três vezes menor (Peru: 11,9%)”, acrescentou a CNI.

No Brasil, o juro bancário e o spread – a diferença entre a taxa de captação dos bancos e o que é efetivamente cobrando na ponta final, de famílias e empresas – sempre foram alvos de críticas da opinião pública. Nos últimos anos, apesar da queda da Selic (a taxa básica de juros, hoje em 2,25% ao ano), o custo do crédito se manteve em níveis elevados, quando comparado a outros países. Conforme o estudo da CNI, o Brasil tem o pior desempenho em relação ao custo de capital.

O estudo da CNI mostra também que o Brasil só está melhor que a Argentina quando o assunto é tributação. “Em 2017, a carga tributária no Brasil representou quase um terço do PIB (32,3%), inferior apenas à observada na Espanha (33,7%) e na Polônia (33,9%), países cuja renda per capita é cerca de duas vezes superior à brasileira, segundo dados de 2018”, registrou a confederação no estudo.

De acordo com a CNI, a carga tributária do Brasil também é uma das mais elevadas em relação ao lucro obtido pelas empresas. “Em 2019, o montante de impostos e contribuições pagos pelas empresas brasileiras representou 65,1% do seu lucro, segundo dados da pesquisa Doing Business 2020 do Banco Mundial”, destacou a entidade. “A proporção apurada no Brasil só não supera a verificada na Argentina (106,3%) e na Colômbia (71,2%).”

No caso do fator trabalho, o Brasil está mais bem colocado, na 9ª posição do ranking. Ainda assim, conforme a CNI, isso ocorre porque o país tem bom desempenho no critério de disponibilidade de mão de obra – ao contrário de outras economias.

Quando se avalia o custo da mão de obra, o Brasil também vai mal. “Em 2018, o Brasil apresentou a segunda menor produtividade do trabalho entre os 18 países, superando apenas a Índia”, registrou a CNI.